A ideia nasceu após uma pergunta formulada à Música Amélia Muge, sobre a mudança do teu nome, se essa mudança traz alguma alteração aos laços estabelecidos contigo anteriormente. Nem ouvi mais nada. A pergunta entrou pelo meu ouvido directamente à minha memória e daí a ideia de te chamar senhora, de te considerar mulher.
És a minha mãe nova e bonita! És uma qualquer das minhas tias, todas elas mulheres com um capital de amor e de afecto sem limites nem plafonds. Crédito total. És qualquer das minhas amigas que cresceram comigo e continuam a acompanhar-me nas caminhadas ou mesmo nas corridas da vida. És a minha raiz, o meu ventre materno, a minha sensação de paraíso perdido, minha primeira infância intocável de memórias que não guardo senão em fotos e que me devolvem uma inconsciência do mal, do perigo. Espaço e tempo plenos de natureza luxuriante e sugestão de aventuras mil.
A minha memória primeira, catalogo-a num tamanho muito xxs, entre os dois e os três anos: uma mudança de colo, da minha mãe para a minha tia, que iria ser minha madrinha. Um carro parado, junto à Catedral.
És a minha avó Madalena, imensa como os seus olhos verdes, estes sim verdes de esperança. Também mulher de amores incondicionais e com uma dedicação à família que a transformava na verdadeira matriarca, com poder conquistado e aumentado ao longo dos anos.
As minhas priminhas, meninas felizes que corriam pelo nosso jardim do Éden privativo, o quintal da Avó, onde os canteiros das alfaces e dos melões, melancias, couves, batatas, árvores de todos os frutos, uns tanques imensos onde todos os dias as roupas brancas eram lavadas e estendidas em bases de ferro e arame a que chamávamos “coradoros” pelas duas mulheres da casa. Junto ao tanque… a romãzeira dava romãs, nem sei em que altura do ano, pois o conceito de “ fruta da época”, no meu passado remoto, não existe.
Hoje é e será sempre o teu dia, Minha Cidade, a tal que eu sei que traí….
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