sábado, 9 de março de 2024

Hoje e agora, serás.

      Querida Lourenço Marques, não sei onde fui buscar esta ideia de seres mulher com nome de homem…Hoje e agora, serás.

A ideia nasceu após uma pergunta formulada à Música Amélia Muge, sobre a mudança do teu nome, se essa mudança traz alguma alteração aos laços estabelecidos contigo anteriormente. Nem ouvi mais nada. A pergunta entrou pelo meu ouvido directamente à minha memória e daí a ideia de te chamar senhora, de te considerar mulher.
És a minha mãe nova e bonita! És uma qualquer das minhas tias, todas elas mulheres com um capital de amor e de afecto sem limites nem plafonds. Crédito total. És qualquer das minhas amigas que cresceram comigo e continuam a acompanhar-me nas caminhadas ou mesmo nas corridas da vida. És a minha raiz, o meu ventre materno, a minha sensação de paraíso perdido, minha primeira infância intocável de memórias que não guardo senão em fotos e que me devolvem uma inconsciência do mal, do perigo. Espaço e tempo plenos de natureza luxuriante e sugestão de aventuras mil.
A minha memória primeira, catalogo-a num tamanho muito xxs, entre os dois e os três anos: uma mudança de colo, da minha mãe para a minha tia, que iria ser minha madrinha. Um carro parado, junto à Catedral.
És a minha avó Madalena, imensa como os seus olhos verdes, estes sim verdes de esperança. Também mulher de amores incondicionais e com uma dedicação à família que a transformava na verdadeira matriarca, com poder conquistado e aumentado ao longo dos anos.
As minhas priminhas, meninas felizes que corriam pelo nosso jardim do Éden privativo, o quintal da Avó, onde os canteiros das alfaces e dos melões, melancias, couves, batatas, árvores de todos os frutos, uns tanques imensos onde todos os dias as roupas brancas eram lavadas e estendidas em bases de ferro e arame a que chamávamos “coradoros” pelas duas mulheres da casa. Junto ao tanque… a romãzeira dava romãs, nem sei em que altura do ano, pois o conceito de “ fruta da época”, no meu passado remoto, não existe.
Hoje é e será sempre o teu dia, Minha Cidade, a tal que eu sei que traí….
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quinta-feira, 7 de março de 2024

 

Chuvinha

 

 Miudinha era uma nuvem pequenina, simpática e sorridente. Quando lhe apetecia brincar, chamava as amiguinhas e divertiam-se a deslizar, a saltar, dançar….

Um desses dias em que apetecia brincar, estava tão entretida que nem reparou que, a poucos metros, Dona Nuvem chorava grossos pingos de chuva. Seria o barulhento Senhor Trovão?

Mesmo assim resolveu continuar entretida a olhar para o recreio de uma escola. Se tivesse voz, ter-se-ia juntado à cantiga e dado as mãos na roda. Mas para isso, também era preciso ter mãos e braços e pernas. A Chuva Miudinha até tinha  sonhado que um dia poderia participar nestas brincadeiras.  Pareciam meninos felizes! 
Uns minutos mais tarde, as crianças deixaram a roda e dirigiram-se para debaixo de um telheiro. Reparou então que eles estavam abrigados do choro da Dona Nuvem.
Deslizou pela parte azul até chegar à Dona Nuvem e pediu-lhe, quase a chorar que deixasse os meninos voltarem ao recreio.
Condoída com o desgosto da Nuvem Menina, a Grande Nuvem fez-lhe a vontade. Secou o pranto e pediu ao Senhor Trovão que parasse com a barulheira….
E o céu ficou muito azul e os meninos voltaram à roda…

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Boas notícias!
Desta minha janela virada para o rio, não verei máquinas escavadoras ou outras, não verei blocos gigantescos de cimento, nem flamingos assustados.
Posso continuar a namorar o rio que guarda o meu deslumbramento.
Desta minha janela virada para o rio, posso assistir ao espectáculo de luz, cores, tons, ondas trazidas pelo vento ou qualquer outra brisa.
Desta minha janela virada para o rio, ao cair do dia, protegida pela miopia dos curiosos, poderei tocar a linha do horizonte.
Chegarei assim ao Mar, Pai Grande do rio....
Boas notícias: "...a crise causada pela pandemia veio dar ao Governo tempo para ponderar sobre a possibilidade de uma avaliação ambiental estratégica sobre o novo aeroporto do Montijo." 
— em 
utras pess

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terça-feira, 12 de maio de 2020

Hoje, presta-se homenagem ao enfermeiro!
Hoje, todos sentimos um desejo forte de agradecer, aos trabalhadores da saúde, a dedicação aos doentes de covid.
Uma doença nova, um inimigo feroz mas invisível, uma ameaça de morte ao minuto...
É na condição de doentes que melhor percebemos a fragilidade da vida e quanto a intervenção da ciência pode reverter a condição e oferecer mais vida e melhor vida.
O Primeiro Ministro britânico deu testemunho e prestou uma homenagem em forma de gratidão.
Bem-hajam!
Percebo e sinto-me, mais do que nunca, solidária com a homenagem do dia.
Na fotografia: o meu pai, talvez em Lourenço Marques/Maputo.

sábado, 27 de outubro de 2018

Parle moi de mon enfance

Estou ainda embalada pelas canções do mítico cantor belga, Salvatore Adamo, que ontem, com ligeireza no corpo e força imensa na voz, conduziu a máquina do tempo rumo aos momentos em que a geração Maio 68 foi feliz. Essa geração, também já chamada "peste grisalha", desembarcou do sofá e aterrou no Coliseu, em Lisboa. 
Hoje parecem-me inesquecíveis os momentos ontem vividos, ou melhor revividos, na também mítica sala de espectáculos. Adamo cantou, dançou, dirigiu a orquestra que o acompanhou e também o público que o acompanhou com entusiasmo crescente, a pedir os mais significativos registos do "nosso tempo"

Adamo recebeu rosas e outras prendas, agradecendo sempre com um beijio na mão de quem trazia as flores ou talvez uma garrafa de vinho.
Agradeceu, agradeceu, agradeceu sempre com a humildade dos grandes e a ternura dos setenta....
Merci, Monsieur Adamo!