sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Ir nascendo

Se não me lembro da terra onde nasci, tenho de nascer na terra de que me lembro, com todos os sentidos.
Nasci então de nascimento menos natural na minha terra menina, hoje Maputo.

Foi aqui que nasci para uma família mais numerosa: para uma avó que me ensinou muito da vida e das pessoas; para tias confidentes e cúmplices, com uma infinita capacidade de amar; primas que tinham tudo o que que eu queria ter, ou seja habilidade para cantar, dançar, saltar, tranças e rabos de cavalo, ao contrário de mim que, por imposição superior tinha sempre o cabelo higienicamente cortado; e ainda uns primos rapazes muito protectores.
Foi aqui que nasci para as palavras ditas e lidas e escritas.
Foi aqui que aprendi quase tudo, até a pensar.
Foi aqui que eu deixei uma importante parte da minha vida.
Foi aqui que deixei, para sempre, o meu avô paterno, que me alimentou um mistério: O que é que tinha de especial um livro, sempre o mesmo, que ele lia e tornava a ler?
A Cidade e as Serras.
Foi aqui que decidi o que é possível decidir sobre o futuro, futuro esse que hoje é presente e passado.

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