Eu sabia que esta expressão me tinha sido fornecida por uma leitura. Procurei, procurei, na minha memória e encontrei: José Gomes Ferreira, "O mundo dos Outros".
"Embora não pareça eu ainda sou do tempo dos comícios de propaganda republicana de boa memória.
Não passava então de um miúdos de colarinhos à mamã, onde apetecia desenhar bonecos a lápis,mas, sempre que a família não se opunha, lá estva caído, nos terrenos sáfaros da ex-Avenida Dona Amélia, agarrado às abas do casaco do meu pai, com todo o silêncio à escuta.
(...)
Quando pratica maldades ou trazia para casa más notas, presumo que o pior castigo que me podiam infligir era suspender-me sobre a cabeça a vingança desta ameaça:
- Se o menino não estuda, não vai ao comício ouvir o António Zé. Agora veja lá como se porta."
E por aí adiante, José Gomes Ferreira desfila memórias de uma infância que ele diz estragada por adultos, como um tal professor de matemática: "um senhor alto ventrudo, glabro, de lunetas cínicas e feições gelidamente irónicas que olhava para nós como feras de bibe e de calção"...
Leiam tudo, que vale mesmo a pena. Não só a leitura como a reflexão sobre valores de ontem que não passaram de moda, para as pessoas boas.