quarta-feira, 2 de março de 2005

"Quero morrer a fazer caretas!"

A ideia não é minha. É do poeta "muso" inspirador deste blog que, recordando a infância, reclama um dos sabores enquistados: o das azedas.
Eu também tenho memória de gosto: as sopas da minha avó e da minha tia, os pastéis de bacalhau e o arroz de grelos, as batatas fritas em azeite, os bifes altos e em sangue...
A infância é de certeza o tempo mais importante da nossa vida. O adulto, que um dia há-de ser, está a fermentar, a levedar, azedando um pouco, por vezes, inchando aqui, rebentando em bolha ali.
São as referências da infância que vão permanecer agarradas à nossa alma até ao último momento da vida. São elas que nos temperam de gosto, também possivelmente, para sempre. Quando pensamos que as esquecemos que se perderam nalgum caminho, eis-nos às voltas com as recordações, a exigir como o poeta, as “azedas da infância”.
Nos meandros das minhas recordações de infância não encontro azedas, mas aproprio-me do resto da ideia do poeta: "quero morrer a fazer caretas!“
Informação complementar sobre as azedas que adoçaram a infância de José Gomes Ferreira e outras.Azeda é nome artístico das Oxalis pes-caprae.
Ei-las:
azedas

1 comentário:

eduardo disse...

Eu sim. Encontro azedas e amoras, batatas fritas às rodelas, o berlinde e o pião, óleo de fígado de bacalhau. E memórias. Memórias que não estão assim tão longe mas que parecem que levam já muitos anos. Anos a mais para quem, como nós, ainda tem uma vida inteira pela frente.

Um beijo, Madalena. Gosto de me anichar no teu cantinho. Sinto como se tivessemos brincado, rindo e chorado juntos todas as pieguices dessa infância que não se esquece.

E vou por ti, quando morrer já tenho a careta certa. Só que aqui não dá p'ra por.