quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Gabriela, sempre Gabriela


Todos dizem que os brasileiros descobriram Portugal... “a bordo” da telenovela!
A telenovela, essa instituição que hoje preenche muitas horas da nossa televisão.
Uns resistem mais, outros não resistem e rendem-se a uma arte de representar diferente mas numa língua que todos entendem,ou mesmo às tramas que, pela sua actualidade, se impõem, de modo algo pedagógico até.
Foi precisamente pelo talento de Jorge Amado, um dos nomes maiores da Literatura Lusófona, que o hábito se instalou em Portugal.
Gabriela saiu das páginas do livro para os ecrãs de televisão com o corpo bonito de Sónia Braga, personagem feita de naturalidade, sedução e juventude. Nacib, o sírio, o seduzido, ficou para sempre com o bigode bondoso e pensativo de Armando Bogus. Há outro bigode menos simpático, bem cínico e traiçoeiro por sinal,o de Tonico Bastos. O Doutor Mundinho, José Wilker, as meninas, Elizabete Savalla e Nívea Maria... enfim uma legião de personagens que ganharam o corpo, a voz de actores brasileiros que depois veríamos noutros enredos, mas pensávamos sempre que tinham saído da “vida real” desta novela.
E a ela voltariam, inevitavelmente, anos mais tarde, a cores.
Não tenho instrumentos para medir com precisão o sucesso de uma versão ou de outra. Penso mesmo que o sucesso da Gabriela não tem medida em medida de grandeza. Gabriela é intemporal e imensa. É a mulher que Jorge Amado criou, como o Criador inventou a Eva.
De acordo com alguns estudiosos da obra de Jorge Amado, esta é a personagem referência de todas as mulheres dos seus romances.
Decorria o ano de 1976 e a hora nobre do serão televisivo, então com dois canais e a preto-e branco, começava com uma cantiga que dizia assim, devagar:
Quando eu vim pra esse mundo
Eu não atinava em nada
Hoje eu sou Gabriela
Gabriela, eh
Meus camarada!

Ganhando velocidade e pressa no refrão:
Eu nasci assim
Eu cresci assim
E sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela, sempre Gabriela
Quem me batizou
Quem me nomeou
Pouco me importou
É assim que eu sou
Gabriela, sempre Gabriela

(Era uma solenidade que não podia ser interrompida. As conversas mexeriqueiras eram adiadas e, provavelmente, até as importantes eram adiadas, porque não havia gravadores de vídeo e ter-se-ia de recorrer ao processo pré-histórico do resumo sem encanto nenhum.
O meu filho Diogo, então com um ano e meio, dançava à frente do televisor.
Não havia câmaras de vídeo, nem máquinas fotográficas -muito menos, digitais!- sempre à mão para guardar essas imagens que permanecem muito nítidas na minha memória.)

Jorge Amado era baiano e nasceu a 10 de agosto de 1912.
Se for até aqui, vai ler uma bonita homenagem!

4 comentários:

armando s. sousa disse...

Grande Jorge Amado.
Sobre a telenovela Gabriela, lembro-me de ver numa daquelas discussões acaloradas que se passavam na altura na Assembleia da República, o Deputado da UDP, imagine-se! Acácio Barreiros pedir ao Presidente da AR, para fazer um intervalo, não para jantar mas para ver a telenola Gabriela.
Um abraço.

Anónimo disse...

E que linda homenagem tu também fizeste a esse Grande Senhor!Váleu!
Beijinhos
ana

José Monteiro disse...

Puseste-me a cantar Madalena! A letra estava um pouco esquecida, mas a melodia ficou-me no ouvido até hoje. Amei Amado e a tua homenagem também.
Beijinho,
José Carlos.

Dinamene disse...

Passei em revista rapidamente e relembrei pelas tuas palavras a descoberta da telenovela e a redescoberta do Jorge Amado.
Outra bonita homenagem!
Beijo.