quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Hoje fui "a Croma" de serviço!

Quando ontem ouvia o Cromo da TSF falar sobre as aulas de substituição, não sabia que estava prestes a viver essa experiência.
Trabalho no arame: uma turma de Ciências, para mim, que sou professora de Inglês!
Meninos que não são meus alunos e que, provavelmente, não voltarei a ver mais, a não ser que a professora de Ciências volte a faltar, no mesmo dia da semana, à mesma hora.

Entre outras coisas, o Sr Secretário de Estado disse, a este respeito, o seguinte: "É preciso aumentar o tempo de contacto entre os professores e os alunos, pois em termos internacionais Portugal não está bem."
Eu pensava que era preciso aumentar o contacto com os meus alunos, para os conhecer melhor, já que são quase uma centena deles. Agora, com os outros?
Acrescentou qualquer coisa como "o nível de degradação a que chegou esta questão no sistema educativo português". E a culpa, é dos professores? Não há responsabilidades noutros sectores da sociedade, noutras estruturas que não sejam a escola? E é com a imposição de medidas não pensadas em conjunto que se vai ultrapassar a questão do "nível"?

O Sr Secretário de Estado admite que se questionem as condições. Mas para a melhoria dessas condições que passam por instalações, mobiliário, material, conforto, o que é que se faz?
E não me venham dizer que o professor resiste a tudo porque não é verdade. Não é apenas uma questão de boa ou má disposição. O professor é gente e não tem nervos de ferro. Tem um corpo que acusa o desgaste com o passar dos anos, como nas outras profissões.

Tenho quase cinquenta e quatro anos. Dou aulas a alunos de dez e onze anos, que não me permitem que me sente numa carteira e debite a matéria. Tenho de andar no meio deles. Tenho de me mexer (e muito!) para controlar o ritmo da aula. Não posso deixar a alma cá fora da sala de aula, presa aos anseios normais da minha outra vida de mulher, de mãe, de amiga, de filha...
Tenho a certeza que cumpriria melhor a minha função se me poupassem a determinados números de prestidigitação, se me continuassem a dar a liberdade que até aqui me deram de responsavelmente correr os riscos todos com os meus alunos, sendo por isso inevitavelmente avaliada, por eles e pelos Encarregados de Educação.
A escola não é um espaço de crianças silenciosas e escondidas, de modo a não incomodar os crescidos, com as brincadeiras ruidosas dos recreios. A escola, como a própria aula, pressupõe a alternância de momentos mais calmos, favoráveis à concentração e de outros, mais de acordo com a necessária libertação das energias próprias de quem tem sete, dez, quinze anos, ou mais até.
Há aqui qualquer coisa que me escapa, quando reflicto sobre os verdadeiros objectivos desta política de educação.
Mas também é verdade que eu não percebo nada de política!

9 comentários:

Pitucha disse...

Que post tão desesperado Madalena...mas acho que o problema não é tu não perceberes nada de política! O problema são "eles". Eles é que percebem pouco!
Beijos e anima-te que o fom-de-semana está à porta.

Dinamene disse...

Madalena, só podes ser alguém que «os poderes» nunca reconhecerão...
Um beijo grande.

Nelson Reprezas disse...

A questão é mesmo essa. Fez-se da política uma ciência de que se percebe ou não, sendo que "perceber de política" remete subconscientemente para a forma de fazer prevalecer os pontos de vista do nosso clube sobre os dos outros, mesmo que não tenhamos razão. Isto desvirtua por completo o sentido da política, até na sua própria etimologia.
Infelizmente é assim e a voragem dos dias em vez de nos mostrar soluções conduz-nos a uma forma de desistência como parece ser a tua neste momento...
Um beijinho amigo para ti

P.S. Hoje CONCORDO inteiramente contigo

:)

Anónimo disse...

Mas que política de educação é esta? O que estão a fazer aos professores e aos alunos? Que país pateta!

Anónimo disse...

Como eu te compreendo,Madalena!
Beijinhos e muita força.

Anónimo disse...

Alô "Croma"
Tu não percebeste,mas eu vou explicar-te:os senhores querem que descubras capacidades que jamais sonhavas ter.Com jeitinho,ainda acabas a dar aulas de ciências também.Como vês lá no fundo,lá no fundo a intenção dos senhores é boa,coitados...
um grande beijinho
ana

Anónimo disse...

Madalena
Uma boa semana para ti.
Muitos beijinhos beirenses

Anónimo disse...

Conheci agora este blog, e mais um sentimento comum neste post :)

Anónimo disse...

Mada, como eu te entendo. Passei a vida a tentar ajustar-me às oscilações da vontade legislada e que sempre me obrigaram a um estudo e atualização constantes...como tu sabes. Do meu curso de origem ficou uma leve fumaça.
Mas, noutros tempo, foi com gosto que inverti a agulha, estudei, frequentei cursos, actualizei-me, sempre com entusiasmo (havia utilidade). Tal como tu, não consegui especializar-me em aulas de substituição. Nada me valeu...tempo inútil, e tempo é vida, nosso e dos alunos. Culpados? Muita gente, incluindo nós que pactuámos com tudo, eu incluída. Vivemos num mundo cada vez mais intolerável, sem sentido, sem objetivo, que navega ao sabor do vento político/económico. Triste a formação dos nossos alunos, social e culturalmente. Pobre futuro para eles.