terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Escritas em dia

Vivemos com as palavras: as nossas, as dos outros, as que dizem os vivos, as que disseram ou escreveram os que já morreram. As palavras são, para mim, um bom formato de memórias. E são sólidas!
E os artesãos da palavra têm a minha admiração. Não podendo conhecer todos profundamente, tive a sorte de poder "privar" com muitos, ao longo das minhas aulas de Português, com os livros de Português.
(Numa semana é talvez a terceira vez que eu falo dos meus livros de Português e vou confidenciar que os guardo e folheio e releio, já não para ensinar, mas sobretudo para não esquecer os mais belos textos que li na vida. E são muitos!)
Hoje, ao tropeçar na memória de Raul Brandão (data da sua morte, em Lisboa) os meus sentidos foram todos tomados pelo mar. Não pelo mar do prazer, mas pelo mar da faina, da labuta, do perigo, do sustento, pelo mar do pão.
"Mas a onda quebra. Desaba em catadupas e outra enrodilha-os logo. O clamor das mulheres confunde-se com o eco da tempestade e é disperso pela lufada"
E sobre o mesmo mar...
"... às vezes parece um véu diáfano, outras pó verde. Às vezes é de um azul transparente, outras cobalto. Ou não tem consistência e é céu, ou é confusão e cólera. De manhã desvanece-se, de tarde sonha."
azenhas
Azenhas do Mar

4 comentários:

Pitucha disse...

Há palavras, melhor, há maneiras de escrever essas palavras, que nos transportam para outros lugares, que nos fazem sentir coisas como se as tivessemos sentido alguma vez.
No fundo, esses autores, esses fabulosos artesãos das palavras, são "meros" emissores de bilhetes de viagens!
Beijos

Anónimo disse...

Depois de ter visto o teu post andei a procurar o livro do Raul Brandão "Pescadores" que tenho a idéia que se inspira no mar da Póvoa de Varzim, para transpor para a escrita toda a faina e perigos que a gente do mar enfrenta. Não consegui, no entanto,e descobri um blog de um professor primário desta zona com 80 anos -Flores de Maio - em que traz uma referência à Libânia Feiteira. Lembras-te dela? Também andou nos programas da Tia Zita e declamava muito bem. Vive na Indonésia depois de ter estado já em vários países. Ela também é da Póvoa e o marido é diplomata.
O Mundo é tão pequeno...
Beijinhos e já fui espreitar o "Amigas do Peito" depois da tua nomeação...está muito bem eleito!...Vou lá voltar.
M.Dores

Anónimo disse...

Em relação ao meu coment só me esqueci de referir que a Libânia escreveu seis contos, publicados pela editora "Garatujando"...
ficamos contentes por aquela nossa África!
Beijinhos, Madalena
M.Dores

Claudia Ganhao disse...

Bela foto das azenhas!!