terça-feira, 17 de abril de 2007

Mãos à obra!

Determinados filmes apanharam-me numa idade já amadurecida ( ou envelhecida, como os vinhos!) numa casta de vulnerabilidade causada pelo sentimento de responsabilidade da vida dos outros. E estes outros são filhos, sobretudo, são alunos, são sobrinhos, são todos aqueles em relação aos quais sei que há um qualquer poder, por pequeno que seja, de moldar o pensamento, talvez para sempre...
A História Interminável foi sem dúvida um desses filmes. Vi-o repetidas vezes, primeiro nas salas de cinema, na era antes do vídeo; depois em casa, onde há a vantagem de voltar atrás e ver de novo, sempre que a nossa compreensão, concentração ou atenção o peçam.
(Os temas dos filmes infantis são, normalmente, intemporais. Dizem respeito a todas as infâncias de todos os tempos. Mesmo as infâncias escondidas pelas rugas e pelos cabelos brancos reagem às evocações das emoções das idades pequenas.
Como os medos, por exemplo!)
O meu mais longínquo terror era precisamente o Nada. O Nada aterrorizava-me, sobretudo à noite, e eu chamava a minha mãe que tentava acalmar-me os medos, chamando-me à razão. Nunca, no entanto, lhes confessei o medo real, o medo dominante: o nada. A ideia do nada. A possibilidade do nada. A consequência mais aterrorizadora: a minha própria inexistência.
Claro que o Nada se dissolveu na razão dos anos da vida que se foram seguindo. Foi Michael Ende que mo devolveu, atadinho de pés e mãos graças à idade adulta caldeada por outros medos, por outros nadas, por outras ameaças à fantasia, esse reduto da infância, que podemos renovar em cada geração que se segue.
"Don't you know anything about Fantasia? It's the world of human fantasy. Every part, every creature of it, is a piece of the dreams and hopes of mankind. Therefore, it has no boundaries."
Recordo ainda, e tenho-me lembrado muito nestes tempos, o cavalo que morre afogado no Pântano da Tristeza. A tristeza parece irresistivelmente sedutora. Quase certo! Mas a razão e a vontade são antídotos, por excelência.
"If we're about to die anyway, I'd rather die fighting!"
Contra o Nada! Contra a tristeza!
Corações à obra!

6 comentários:

Pitucha disse...

Que texto tão bonito Madalena.
Beijos

Anónimo disse...

Contra o Nada! Contra a Tristeza! Corações à obra!
Obrigada, Madalena.
Beijinhos

Anónimo disse...

Contra tudo o que nos faça sofrer..."o Nada" que às vezes é mesmo tudo.
Já tinha saudades...
"Corações à Obra"!
Mil Beijinhos, Madalena.
M.Dores

Anónimo disse...

Linda, a escrita sentida! - um beijo, IO.

125_azul disse...

Tu enches tão bem o nada de palavras bonitas e sentimentos doces...beijinhos

Nelson Reprezas disse...

Tens textos lindíssimos. Nunca envelhecerão, como os vinhos. Nem é preciso, porque já são bons.
Beijinhos