quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Retrato do intervalo

Hoje, na escola, na minha escola, na confusão
1-do intervalo maior da manhã;
2- das trocas de livros de ponto;
3- das crianças pequeninas (10 anos) roubadas (sessenta cêntimos) pelas crianças grandes (11 anos);
4- dos "setores" atrás dos funcionários da reprografia, a pedir o milagre da multiplicação dos testes em meio-prazo (porque o prazo inteiro já foi!);
5- dos telefones que repenicam na secretária da funcionária e nos vários "postos" onde D.T.(s) esperam e desesperam as comunicações desejadas, em vez de "o número que marcou não se encontra atribuído";
6- dos narizes esborrachados nos vidros que embaciam com a respiração e obriga a mais esborrachamento de narizes, tudo para espreitar o miúdo que se magoou porque lhe correu mal o número de equilibrismo na estátua do D. Pedro Varela, o tal senhor de pedra que "parou" ali, no meio do recreio;
7- da ambulância "tinoni" que entra para levar o miúdo para o Hospital;
8- da avó que vem trazer o dinheiro à "minha Rita", que "depois como é que ela compra a senha?";
9- dos computadores que a TMN veio entregar, os tais de cento e cinquenta euros, "Deixa cá ver se são a sério que eu também pedi um!";
10- dos fornecedores do bar que pararam ao lado da ambulância para esvaziar a mercadoria..
11- do miúdo que afinal se levanta e anda e vai pelo seu pé para a ambulância, provocando um movimento quase sísmico dos narizes esborrachados;
Na confusão do intervalo, entre as cem caras que constituem a população que habita a pequena entrada da escola, uma olha para mim, sorri e pergunta se a reconheço. Foi minha professora! Ah, claro, aqui na escola, no Montijo! Não! Em Odivelas, há muitos anos. No Externato? Sim. Lembro-me que tinha um bebé...
Como é possível? Era a probabilidade igual à do Euromilhões... ali, na confusão
do intervalo maior da manhã, das trocas de livros de ponto...
Trinta anos não me apagaram completamente das memórias dos outros o que me reconcilia com as minhas marcas de vida e de tempo e me obriga a prometer solenemente não pôr botox nos próximos trinta!
Foi mais uma lição para eu aprender a não andar por aí a lamentar o caruncho!
Este intervalo não dava um filme. Este intervalo vale muita vida! Se vale!
Adenda-Estava à espera da fotografia do tal Senhor que ficou ali, no meio do reccreio... Chegou agora mesmo. Ei-la:Fotografia do Prof-mestre-nestas-artes: Francisco Grilo!
Obrigada!

9 comentários:

mjf disse...

Olá!
Hoje passei rápidamente para deixar um beijinho
Voltarei

Pitucha disse...

Eu se te tivesse tido como minha professora também não me ia esquecer!
Beijos

Madalena disse...

mjf, obrigada pelo beijinho. Sentiste bem na confusão do intervalo?
Pitucha, ela lembra-se dos professores todos: nomes, retratos físicos... Boa memória que mesmo assim me lisonjeia!!!!!
Beijinhos às duas

Anónimo disse...

Que belo filme vi aqui! Tudo tão real, que até me senti, com o nariz esborrachado contra o vidro, a espreitar tudo.
Beijinhos, Madalena

125_azul disse...

É assim, quando acreditas no que fazes e fazes com amor! Post fantástico, obrigada stôra!
Beijinhos

Anónimo disse...

Isto parecia mesmo um filme!
E já agora também memórias e recordações para sempre. Bótox nunca!...
Beijinhos Madalena
M.Dores

Anónimo disse...

Vou com as palavras daP itucha, eu também não, stôra.
Oh, Mad', o início deste post stressou-me lol, mas só mesmo tu o terminavas de forma tão bonita, um beijo!, IO.

Madalena disse...

Laura, Azulinha, Maria, Chuinguita, kanimambo!!!!! Beijinhos

t-shelf disse...

ai maddy que história tão doce contada de maneira tão vivida, como tu tão bem sabes fazer. Quer dizer que ainda há esperança? Alguns dos alunos do ano passado passam por mim e nem sequer me cumprimentam. A adolescência tem dests coisas. Em compensação há outros que não vejo há anos e ainda conversam comigo no msn. E sabe tão bem. bjs muito grandes