quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Dos dias

Falta alguém? perguntei, como sempre, apesar de ter já notado a ausência daquele volume de caracóis desalinhados e pretos, libertados, daqueles olhos também encaracolados de mimo e doçura, tanto, tanto, que até dá para semicerrar as pestanas e avançar em direcção a mais um abraço que o espere, tropeçando em quem empatar esse caminho.
Acabada a pergunta, bateram à porta. É o João, gritaram os outros. Abri a porta, à espera do sorriso doce. Não! Enganara-me. Não sorriu, não se moveu, não falou. Os olhos quase rebentavam num brilho estranho. Até os caracóis negros embaciaram.
- O que foi?
Nada. Nem resposta. Nem razão. Nem choro. Nada.
Insisti. Outra vez: nada!
De repente um choro convulsivo e muito molhado rasgou-me o entendimento: doem-me os pés.
Uns minutos depois veio a explicação:
- Há um ano fui operado aos pés. Eu não tinha aquela curva que vocês têm. E agora, às vezes, tenho muitas dores e nem consigo andar.
(Meu Deus, não foi para isto que eu "fui para professora"! Andei o resto do dia, vou ficar muitos dias com o desenho daquelas dores injustas nuns pés de dez anos. Eu que pensava que só aos mais velhos é que as dores acontecem!)

9 comentários:

Anónimo disse...

Que bem que escreves a dor, Madalena!
"Mas âs crianças, Senhor, por que lhes dais tanta dor, por que padecem assim?"
Beijinhos tristes

125_azul disse...

Tadinho, Madalena! Parece que a dor dos pequeninos doi ainda mais em nós. Pelo menos quando é escrita assim. Dá-lhe beijinhos!

Madalena disse...

Foi exacatamente o que eu pensei, Laurinha. Espero que a dor se tenha ido embora. É a dor dos pequeninos que dói mais como sabem. Beijinhos para ti, Laurinha e para ti, Azulinha!

EVISTA disse...

Este texto está de uma doçura!
Sabes que até quase senti a dôr do pequenino?
Beijinhos para ele e para a professora que tão bem entendeu o sofrimento.
M.Dores

Anónimo disse...

Madalena:
Há coincidências e eu não acredito em bruxas "ma... que las hay, hay!!!" (será que é assim que se escreve?) e esta das lágrimas é uma dessas coincidências.
Hoje cheguei à última aula do dia e perguntei aos meus meninos quem ia ao teatro ver "...", no sábado, logo depois das férias de Natal. Para meu espanto o X disse-me que não queria ir pois já tinha ido duas vezes ao teatro.
- Ver ...? - indaguei.
- Não! Outras coisas.
Mas os olhinhos ficaram muito brilhantes, com lágrimas que saltaram.
Tentei saber a verdadeira razão mas, só no final da aula, me foi oferecida a verdade: "O pai trabalha em Espanha e vem a casa ao fim-de-semana!"
Qual a razão das lágrimas? Para mim há duas e tu sabes quais são.
Um abraço,
Emília.

Afrodite disse...

Bom Natal!



E ainda um beijo, agora daqui, do Pinhal Novo.

Pitucha disse...

Espero que esteja melhor.
Beijos

eduardo disse...

Não, não é só aos mais velhos que acontecem coisas levadas da breca. E passando-me para o teu lado, os cabelos encarocolados de mimo e doçura também não me empatavam o caminho. Só se não pudesse...

A curva que a gente tem, sabes?, para o menino eu dava a minha.

Luisa Hingá disse...

Custa tanto ver os pequeninos a sofrer. Até doi.
Beijinhos