domingo, 17 de fevereiro de 2008

E porque hoje é domingo, dia de estar cansado...

Porque hoje é domingo, é dia de aludir ao cansaço, ao legítimo cansaço, tão legítimo, que foi Criado o Dia do Descanso. Ora o Dia do Descanso só faz sentido, se houver cansaço.
Mas o cansaço é normalmente expresso com um enfado que não o dignifica. E o nosso cansaço, resultando de um trabalho qualquer, merece ser dignificado e ser classificado como direito. O Direito de estar cansado. Com enfado, o cansaço não passa de um reles tédio.
Há quem esteja cansado de nada fazer e esse cansaço é doença, é maleita.
Há o cansaço de quem espera em vão. Esse cansaço também é um mau cansaço.
Vamos "ouvir" o que tem Álvaro de Campos a dizer sobre o cansaço, o dele, em tudo diferente do nosso, claro!
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Já em tempos recordei aqui os domingos da minha adolescência e esses, sim, eram o repouso do guerreiro: praia, caril e matiné!

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