quarta-feira, 12 de março de 2008

Esta escola não é para velhos!

A vida tem um sentido único.
Ninguém volta ao que já passou, diz a Cantiga do Pastor.
Além de irrepetível, a vida é irreversível. Nada que alguém possa lamentar não ter tido já prova, por vezes amarga.
Um dia, tive de escolher para os meus filhos uma das duas escolas: a pública e a privada. Escolhi a pública pois, apesar de eu estar na altura a dar aulas no ensino privado, considerei que não podia desperdiçar para os meus filhos a aprendizagem de vida que a escola pública proporcionava. Queria que os meus filhos conquistassem "os olhos de ver o mundo" e a sabedoria vivida do Zé Pimpão.
Os meus filhos cresceram e eu, em momento algum, lamentei a escolha. Tiveram todo o género de professores e isso enriqueceu-os. Diferentes, porém ligados pelo entusiasmo, o enorme orgulho e a imensa responsabilidade de terem nas mãos o futuro. Nesta escola, os meus filhos aprenderam a respeitar a diferença e a defender as suas próprias ideias. Aprenderam a pensar, porque era tão natural ensinar a pensar como ensinar a ler e a escrever.
Talvez seja sinal de velhice sentir saudade ao pensar nesta escola que foi a minha na minha idade dourada. Não é "talvez". É mesmo "é". O figurino que a moda actual dita não me serve. O novo figurino exige que todos os professores vistam as mesmas medidas. É mais uma ditadura que vem juntar-se à da magreza, da beleza com "botox", da juventude e até à da saúde perfeita.
Nem este país é para velhos, nem esta escola não é para velhos!

4 comentários:

EVISTA disse...

É engraçado que foi situação que nunca tive que ponderar. Os meus filhos também frequentaram sempre o ensino público. O meu filho aprendeu a ler e a escrever mesmo antes de ir para a escola, não tinha ainda 5 anos, dada a disponibilidade do Avô (professor primário reformado).A determinada altura o nosso medo era de que perdesse a brincadeira e o convívio tão importantes para a sua formação e com 5 anos ele passou a frequentar (clandestinamente)
a 1ªclasse na turma duma professora amiga e numa escola com crianças oriundas de gente muito carenciada e de etnia cigana.Fêz muitos amigos e que ficavam de boca aberta quando a professora o punha em cima da cadeira a ler para os outros meninos que ainda começavam a soletrar as primeiras letras. Lembro-me dele fazer anos(6) em Junho e eu lhe levar um bolo enorme no feitio de um campo de futebol, com jogadores, balizas e bola.E de chocolate!...
Nunca se queixou das companhias e também teve óptimos professores. Não é por acaso que está a fazer investigação...e num País com mais recursos que o nosso e sem nunca ter necessitado de explicadores. O nosso ensino público também é bom e tem professores muito bons, que gostam de ensinar, que se interessam e se emocionam com o êxito daqueles que ajudaram a crescer!
Beijinhos, Madalena.
M.Dores

EVISTA disse...

Sabes que no blog do Macua, temos lá o nome dos nossos professores em Moçambique.Áparecem nods diferentes estabelecimentos de ensino. Já espreitaste?
Já lá encontrei o nome de alguns,embora faltem ainda muitos
Foi só porque falávamos nos professores. Dos professores que também tivémos e que nos marcaram e que nos influenciaram.
Beijinhos e força Professora!

Anónimo disse...

Eucá experimentei uma escola privada três meses, provei a hóstia e saltei para a pública sem dor e muita brincadeira até ao fim.
Beijo, estou a adorar ver/ler a luta com que a nossa doce Mad' defende a sua dignidade:
Viva a prof'!!
Uma que fez ploffs ao balão.
Beijo e vão lá provar as pies,
IO

Nelson Reprezas disse...

Apontas um ângulo que confesso não me ter ocorrido antes - a diversidade no bom e no mau. Mas por isso é que tu és professora e eu... não :)
Apesar de tudo, e sei que desaprovas o meu raciocínio, continuo a pensar que a avaliação dos professores poderia ser feita no decurso natural de um sistema de opção livre dos pais. O cheque-ensino, ponderadas as "tecnicalidades" pelos especialistas da finança e da economia poderia ser uma boa escolha. As escolas más passariam a ter cada vez menos alunos e cada vez mais alunos passariam a ter acesso à qualidade.
Mas hoje apetece-me mais falar do sol que brilha aqui em Cascais e mandar-te um beijinho pela firmeza e nobreza das tuas posíções relativamente a toda esta problemática.
:)