domingo, 15 de agosto de 2010

Balanço algarvio

A vida é feita de nadas, diz o poema de Torga e a cantiga do Sérgio Godinho. A cantiga diz "pequenos nadas".
E, até hoje, eu dava razão aos poetas. Foram uns nadas muito breves que me animaram esta espécie de férias no Algarve. Foi a coincidência das minhas amigas de adolescência estarem cá e perto que deu um sabor diferente aos dias, à praia, aos jantares, aos preparativos da praia e dos jantares. Estando juntos voltámos a ter dezoito anos e a conversa mais séria do mundo desaguou sempre em sonoras gargalhadas. (Os nossos filhos olham-nos com aquele ar de pais desiludidos e não dizem mas pensam: não há nada a fazer!) Resolvidos que estávamos a esquecer as mazelas do presente, os momentos que vivemos juntos contribuíram para uma reorganização de valores que, podendo não estar completamente certa, proporciona muito mais bem-estar e tranquilidade.
Concretizámos um programa agendado há algum tempo: visitámos a minha mãe que quis saber tudo sobre cada uma das “meninas”. Ela própria recordou, com ternura e alguma alegria, o casamento que lhe queríamos fazer com o pai da Lalá. Desfiou outras recordações. Escrevemos um postal à laia de registo para memória futura e lá a deixámos com um bocadinho mais de alegria que talvez lhe dê força para algum tempo, tempo dela que é, inevitavelmente, marcado pela resignação e por alguma tristeza.
E aqui é que a cantiga e o poema deixam de ter razão. A tristeza não é um nada. A tristeza enche que nem um grande tudo. Demole os nadas que nos animam os dias e, provavelmente revela-nos a verdadeira importância da vida e nos leva a uma conclusão: esta é uma passagem curta. Uma colega minha faleceu. Era mais nova do que eu e depois desta notícia como é que vou viver com alegria sabendo que a falta dói na casa de alguém que me é próximo, alguém que dividiu comigo os dias de trabalho, alguém que me apoiou nas causas muitas vezes perdidas quase à partida?!
Descansa em paz, Guilhermina!

Sem comentários: