domingo, 5 de junho de 2016

Parabéns, papá!

O meu pai nasceu há noventa anos. 
Há que celebrar um homem que viveu muito além dos noventa no tempo um tanto mais curto que lhe coube. Viveu para lá de convenções. Venceu doenças que eram consideradas " morte certa". Dançou muito e cantou à moda dos ídolos da época. Namorou que se fartou. Escreveu e pintou, porque sim, porque gostava e porque a sensibilidade assim pedia. Leu imenso. Conviveu com poetas, escritores e pintores. Foi enfermeiro de vocação e a morte foi sempre uma inimiga a abater.
Foi um Don Juan perfeito e acabado, com namoradas nas várias esquinas da vida. Até ao dia em que resolveu deixar de partir, ou ajudar a partir, corações.
Foi meu pai, mas nunca "exerceu" essa paternidade com a superioridade de quem sabe mais, já viveu mais os assuntos da vida. Era, como se diz agora, um parceiro, já que a minha educação era o empreendimento. Ensinou-me a gostar de cinema e de poesia. Ensinou-me a aprender com os acontecimentos da vida. Tinha as frases "chave" com que ilustrava os ensinamentos. Muitas eram as máximas consagradas, como: os cães ladram e a caravana passa. Outras eram importadas de amigos e ajeitadas por ele mesmo: nunca faltou miséria ao miserável, nem dinheiro ao gastador. Outras ainda nasceram numa alma aflita, a sua, quando a vida estava a doer: "eu acredito em Deus e Deus acredita em mim."
Hoje faz noventa anos! Parabéns, papá!

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