quinta-feira, 12 de agosto de 2004

"I love Torga"

Dizia eu, numa caricatura de um jornal de turma, feito por alunos do oitavo ano a quem eu dava aulas de Português.
Devia "notar-se" muito a minha preferência.
Adolfo Coelho da Rocha, Miguel Torga para os livros, nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho de Anta, Trás- os- Montes e faleceu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995. Deixou a sua vida escrita em duas grandes obras autobiográficas: A Criação do Mundo e Diário, este último é prosa, poesia, ensaio... São muitos os volumes de poesia E são também muitos os contos, deixando sempre visível a intenção de retratar um Portugal distante, sozinho e quase desconhecido.
Os Diários e a Criação do Mundo foram, de todas as obras, as que li mais vorazmente, em toda a minha vida.
Nunca nessas páginas encontrei certezas absolutas. Mas encontrei muitas explicações para os lados mais difíceis da vida.
"Como é sabido, ninguém conhece o dia de amanhã, e, pelo que me diz respeito, fui um mártir dessa incerteza."
Torga era assim: triste. Ou telúrico, como dizem os críticos literários.
Diz-se que era um homem inacessível, distante, pouco simpático, sobretudo quando vestia a farpela de escritor, em actos públicos.
Diz-se e pode ser verdade.
Mas, na privacidade dos livros entregou-se a todos, de alma e coração.



4 comentários:

molin disse...

S. Martinho de Anta, algures, não perdido (bem pelo contrário) entre Vila Real e Sabrosa, como quem segue pelo Douro acima, na direcção do Pocinho, é um lugar muito especial. Junto à igreja, com uma vista para
além do privilégio, consegue perceber-se o porquê do amor de Torga por aquelas paragens. É mítico, sagrado, mágico, intimo, sublime, onde a terra parece tocar no azul do céu, vislumbrando-se um fio dourado, muito irrequieto nas suas belíssimas curvas em direcção ao mar.

Um local acima de toda a imaginação, só superado pelas palavras do próprio filho da terra (penso que médico de estudos, mas desde cedo um escritor de referência para nossa vasta e rica língua portuguesa.

Torga esteve para a literatura lusitana como o rio Douro está para as encostas rasgadas e preciosamente recortadas da região duriense: nasceram uns para os outros.

Parabéns Adolfo.
Parabéns Madalena.

Já agora: qual é o livro mais bonito do Torga para ti? Quero lê-lo.

Beijinho

Madalena disse...

Querido Pedro, acredita que não sou capaz de te dizer é este ou este. Como escrevi no post, o Diário e a Criação do Mundo assolaparam-me. E os novos contos também e o SR Ventura também.
Começa pela Criação do Mundo, mas não percas os outros.
beijinhos

eduardo disse...

As minhas referências foram Os Bichos e Contos da Montanha, e sobre ele nada melhor do que as suas próprias palavras: "Nem sempre escrevi que sou intransigente, duro, capaz de uma lógica que toca a desumanidade. (...) Nem sempre admiti que estava irritado com este camarada e aquele amigo. (...) A desgraça é que não me deixam estar só, pensar só, sentir só."
Na minha escola chamávamos-lhe o "homem sem rótulo".

virna disse...

Obrigada, Madalena, pelo belo presente literário que tenho na estante: A Criação do Mundo de Miguel Torga.
Um abraço,
Virna.