"Certo. Consigo compreender a sua escolha. Mas entre o amor e o ódio o que leva um homem a escolher o ódio?"
Fernando Pessoa não respondeu. Vieram-lhe à memória, sem motivo algum, imagens perdidas da sua infância em África. Ele nunca falava daquele tempo. Os dias eram cheios de vento. Os ossos estalavam, ao sol, sob a pele, como coisas antigas. Algures, na imensidão das tardes, ladravam cães. Voltou a ouvir o eco disperso dos gritos. Um menino, numa bicicleta, fugindo da turba (teria roubado a bicicleta?). Certa ocasião, numa estrada abandonada, vira uma coisa incrível: uma roseira explodindo em pleno asfalto.
"Não sei", disse. "Talvez o vazio. Talvez as pessoas se tenham esquecido de que existe livre arbítrio."
José Eduardo Agualusa
Domingo, 28 de Novembro de 2004
"Sê todo em cada coisa.", disse ele.
1 comentário:
Só assim podemos, realmente, chegar ao fim e dizermos que vivemos. Falar em plenitude é ser assim mesmo: todo em cada coisa.
Que bom é visitar-te!
Tens sempre alguma coisa que me faça reflectir. És incomparável, querida Madalena. Todos somos, mas tu és especialmente incomparável.
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