sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Dezembro, mas Natal ainda não

Dezembro avança e eu sem prepararativos de Natal.
Não há upgrades de fantasia ou inocência, para restaurar o tempo em que o Pai Natal descia pela chaminé e me punha presentes no sapatinho.
Porém, esse pode ser apenas o meu caso particular.
No entanto, alguma expressão literária, especialmente a poesia, consegue despertar-nos para um espírito de Natal, que tem a ver com a utopia universal de paz.
Pelo menos de cada homem consigo próprio.
Fui à procura de um poema, muito divulgado nos manuais escolares (a melhor divulgação possível!) e resolvi relê-lo, pela vez que não conta, porque a poesia se lê sempre pela primeira vez.

Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão Ferreira




1 comentário:

lique disse...

É esse o espírito de Natal que deve prevalecer sobre todo o aparato consumista que o Natal tem vindo a provocar cada vez mais. Se todos pensassem assim, o Natal até podia ser uma época linda... o ano todo. Beijinhos