sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Trocar de coração

Foi em 1967, que aconteceu pela primeira vez.
Lewis Washkansky, de 53 anos, recebeu um coração com metade da idade.
Infelizmente, há o lado trágico deste avanço da ciência e da medicina: uma das duas vidas fica pelo caminho.
O cirurgião foi Christian Barnard e tudo se passou na África do Sul, no Hospital de Groote Schuur, na Cidade do Cabo.
Lembro-me bem da esperança que nasceu nesse dia para os doentes cardíacos.
Agarrada a esta esperança estava um sem número de questões de ética, como por exemplo a questão da doação dos orgãos, que ainda hoje não é totalmente pacífica.

O coração de Washkansky, o doente, parou ao fim de dezoito dias, mas Barnard não parou e talvez lhe devamos hoje os grandes sucessos nesta área da medicina.
Paralelamente à evolução das cirurgias cardíacas pelas mãos de Barnard, a imprensa seguia ferozmente o homem, cujo "coração" não resistiu às inúmeras solicitações mundanas e desatou a mudar de mãos, sem ter encontrado nunca sossego, pelo menos pelo que rezam as crónicas sociais da época, insaciáveis como são sempre e eivadas de uma moral hipócrita, como normalmente.
De repente, Christian Barnard deixou de ser o pacato médico sul-africano para se transformar no homem mais social e amorosamente cobiçado.
Era um verdadeiro superhomem!
Mas todos sabemos como o tempo é implacável, mesmo para os superhomens.
Na casa dos setentas, o corpo pedia-lhe mais calma e mais tranquilidade,o que era pouco compreensível para a última mulher de Barnard, uma modelo quarenta anos mais nova.
Separaram-se em 2000 e, em dois mil e um, um vulgar ataque cardíaco matou o mais prestigiado cirurgião cardíaco do mundo.
Nada garante a eternidade, apenas a ilusão de que vivemos dia após dia!

3 comentários:

Anónimo disse...

Também me lembro bem do primeiro transplante de Christian Bernard, mas estava convencida que tinha sido o dentista Philip Blaiberg, judeu sul-africano, o primeiro a receber um coração. Até li o livro, em LM, sobre este passo da Ciência _ IO.

Madalena disse...

A proximidade geográfica dos acontecimentos terá contribuído para que os acompanhássemos mais intensamente, não é Chuinga?
O dentista Bleiberg foi o segundo doente a receber com sucesso um coração. Terá vivido mais do que o primeiro mas não viveu muito segundo me lembro.
Foram os primeiros e, como sempre, os que vêm a seguir é que beneficiam da experiência já realizada.
Mas os primeiros é que ficam na História!
beijinhos

Anónimo disse...

Isso mesmo, Madalena, haja alguém que não me deixe ser troka-tintas!... sim, sem dúvida alguma, o facto de ter sido ali ao lado, tocou-nos _ beijo, IO.