domingo, 20 de fevereiro de 2005

Não é só tempo de festa

Coimbra, 25 de Abril de 1975- Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo consciente da transcendência do acto que ia praticar e ciente da ambiguidade circunstancial que o permitia. O que faz o aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder! Assim os nossos corifeus saibam tirar as devidas conclusões. Mas duvido. Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promovê-la. No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade de cúmplices que não desminta a degradação deles.

Foi o que Torga escreveu no dia em que se realizaram em Portugal as primeiras eleições depois de 25 de Abril de 74.
É muito importante salientar o valor do voto: opinião e determinação.
Era nessa altura e é hoje e sempre.
A opinião hoje é que o PS deve governar e é também a determinação de um povo para quem, hoje, para além da liberdade, quer mesmo conquistar o direito à vida digna através de salários e pensões dignas.
A pobreza existe e não podemos continuar a ignorar todos os que vivem nessa condição e que temem todos os dias pela sua frágil e precária condição material.
Foi por isso e para isso que eu votei hoje!
Não posso deixar de subtrair ao regozijo da vitória do PS, a enorme responsabilidade que este partido tem, com estes resultados, em afirmar-se de vez como um partido que tem uma obrigação social imensa, que não pode defraudar a esperança das pessoas, sobretudo das mais pobres.

8 comentários:

eduardo disse...

... e as bandeiras ainda frescas. Os panfletos esvoaçando por tudo o que era sítio onde homens com vontade proclamavam o voto livre. 75, Lisboa. Um dia que não esquece.

Anónimo disse...

Madalena, com tanta festa, prometo vir ler o teu post amanhã. Hoje, deixo só um beijo à esquerda, em festa!! _ chuinga.

Anónimo disse...

Sabes que, sempre que vou votar, sinto dentro do peito uma alegria inexplicável? _ ingenuidade ou não... _ e obrigada por este texto!, beijo, IO.

Anónimo disse...

Estou profundamente convicta que o p.s.tudo fará para merecer este voto de infinita confiança que lhes démos.Ainda não consegui transbordar toda a minha alegria pelo resultado das eleições.ana

molin disse...

Os deveres de cidadania começam precisamente nestes pequenos actos de consciência inconsciente. Ou seja, podemos até fazê-los de forma inconsciente mas reflectindo um acto de consciência, amadurecido. Votar é como não deitar papéis para o chão, ser comedido nos gastos da água (por exemplo), fazer com que alguém seja feliz e preocupar-nos com o bem-estar dos outros, como se o nosso dependesse disso.

Já votei em branco, mas nunca falhei uma eleição. Tenho os meus princípios ideológicos e não gosto de cair na fácil tentação de pensar que são todos iguais, venha quem vier, todos andam atrás do mesmo. Quero acreditar sempre que quem vem de novo, vem com vontade de mudar (uns mais do que outros).

Estou imensamente feliz pelos resultados alcançados pelo PS, sobretudo pela miserável campanha de ataque pessoal ao seu líder que foi feita pela oposição de direita.

E a história que em duas semanas consecutivas saiu no Independente, em vésperas de eleições, deve esconder algum gato manhoso, com um grande rabo de fora.

Mas o tempo não é de mesquinhices. É de aproveitar o novo alento da população e tentar fazer do nosso país um sítio melhor para viver, onde não se ouçam as pessoas a dizer a toda a hora que mais vale emigrar.

th disse...

Apenas quero deixar um abraço de quem já sofreu a mesma perda a dobrar, theo

Anónimo disse...

"...onde não se ouçam as pessoas a dizer a toda a hora que mais vale emigrar.", peço desde já desculpa a quem "postou" este fragmento que aqui transponho, mas a verdade é que, mais cedo ou mais tarde todos nós já fomos assolados por esta dúvida, "deverei?". Alguns de nós somos mesmo aconselhados a fazê-lo, como eu própria. Acredito que, entre tantos aproveitadores dos tachinhos, haja alguém que realmente quer ver o nosso belo "jardim" tornar-se num verdadeiro país civilizado.
Passa por pequenos gestos, não sópor parte de quem lá está, mas também por parte de quem os lá põe, e se não gosta, não venha depois reclamar se não tiver aproveitado a oportunidade de escolher!
Não deixemos o nosso país entregue às mentes perversas que funcionam no submundo, na média-luz, lutemos juntos para que este seja aquele país que todos nós gostaríamos que ele fosse. Não o abandonem!
Bem-haja!
Katz

Anónimo disse...

"(...)país civilizado.
Passa por pequenos gestos, não só por parte de quem lá está, mas também por parte de quem os lá põe, e se não gosta, não venha depois reclamar se não tiver aproveitado a oportunidade de escolher!" _ Muito bem, Katz, é isso mesmo!!, abraço, IO.