domingo, 29 de maio de 2005

Maio, mês do coração

"Era o dia da festa /Maio de amores", diz a cantiga do Zeca Afonso.
Maio é o mês do coração, decidiu alguém. Provavelmente, os cardiologistas, pensando num Maio do coração, da bomba que tem como obrigação irrigar o nosso corpo todo com sangue novo, cheio de oxigénio!
Mas o mesmo coração tem outra função, igualmente vital: alojar o amor e, apesar de o obrigar a bater aceleradamente, dar sentido à vida.
Se não fosse o amor, que seria de nós?
Eis o pretexto que me faltava para falar de amor, no contexto do coração de Maio.
“As mulheres dão prioridade ao amor, o que raramente acontece com os homens" é uma das frases destacadas de um artigo do Público, dedicado a uma obra do israelita David Grossman, que escreveu uma obra que se intitula “Ver: Amor”.
Destacada ainda uma frase-ideia muito interessante: o ódio é fácil e o amor é difícil, ideia que se parece brotar naturalmente da literatura e mitologia cristãs, de acordo com as quais, o caminho da facilidade conduz ao mal.
Voltando ao Maio das tradições e dos costumes, uns mais naturais do que outros, uns mais introduzidos num roteiro de tradições, que parece ser o guião necessário ao desempenho normal de emoções, como as que advêm do amor.
Temos a ideia de que os poetas e os escritores, de um modo geral os artistas têm uma sensibilidade diferente para estas questões de coração, de estados amorosos ou apaixonados. Talvez tenhamos razão! Pelo menos eles assim o fazem sentir, nas suas manifestações artísticas.
Tome-se como exemplo o Camões nosso, amante em estado de enamoramento permanente, que arriscou uma definição, baseando-se afinal na indefinição ou numa irresistível coexistência de estados contraditórios.
Mas o que é o amor, afinal?
Parece-me que o amor assim é um susto!
E para aumentar estas inquietações, o Público continua, citando David Grossman:
“Nas suas histórias as mulheres tendem a ser muito fortes, perspicazes, confiantes. E nos homens há mais facilmente uma desorientação, uma incapacidade de mostrar o amor que sentem.”
A minha experiência não me diz isso, tão exactamente assim...
E ainda:
“Uma fragilidade, sim. De forma geral, aprecio muito mais as mulheres do que os homens. Creio que aprendi muito mais na minha vida com mulheres. Sem as idealizar - claro que há mulheres obtusas, com medo das suas emoções. Mas, de forma geral, um dos talentos que as mulheres têm, e os homens têm menos, é uma capacidade de intuírem a vida interior das pessoas, e de darem prioridade ao amor verdadeiro, quando o identificam. Os homens raramente privilegiam o amor. Vivem-no, querem estar apaixonados, claro, mas sempre existirão outras coisas na agenda deles, outras razões para não se renderem totalmente ao amor. É uma generalização horrível, mas estou a falar do número limitado de mulheres e homens que conheci na minha vida. As mulheres têm uma capacidade de fazer sacrifícios pelo amor e de compreender que o amor é a coisa mais importante da vida. O que não se verifica da mesma forma com os homens.”
E tudo isto é válido porque se trata da experiência pessoal do autor.
Mas não há verdades absolutas.
Pelo menos eu quero crer que não!
Assustam-me muito as verdades absolutas.
Quem nelas acredita plenamente, corre muito mais riscos de experimentar frustrações de grandes dimensões, quase trágicas.
A vida também me ensinou a deixar uma margem de manobra para os acontecimentos que não dependem do meu conhecimento e que não posso controlar.
Quanto à bomba, nunca controlei muito. Só fiz em toda a vida um electrocardiograma. Maio está quase a acabar e acho que ainda não é este Maio que vou tratar do coração, medicamente falando, claro!
E isto é tudo blá-blá: sobre o coração e sobre o amor.
E o blá-blá faz bem! Previne muitas doenças dos corações!
E a música também.

All you need is love, they said!

13 comentários:

Anónimo disse...

Também li, no 'Mil Folhas' e achei interessante. Já agora, deixo uma questão: 'as mulheres matam-se mais por amor, os homens preferem matar o homem porque foram preteridos'. Até que ponto, é verdade? Diz-se ainda que 'ninguém morre por amor, mas por uma série de frustrações acumuladas de que o fim de uma relação é apenas a última gota de água'.
Bom domingo, Madalena!, IO.

Anónimo disse...

não é 'porque', mas por que(m) foram preteridos,IO.

isabel mendes ferreira disse...

pois o mundo é tão pequeno breve e "encontrado". encontro-me aqui um pouco intrusa e devo-o ao CSA e só me atrevo a abrir a porta por ter encontrado alguém do.....Montijo, terra que me viu nascer e à qual não volto há milhares de anos...dela trago o cheiro do rio das "estórias" que uma velha criada contava no sotão enquanto me ensinava solfejo e fazia dos meus cabelos uma trança que só a ternura segurava e a minha mãe entoava baixo canções de amar. restos que de repente agora que a morte as juntou de novo me fizeram "feliz". obrigada.

Mitsou disse...

Mais uma leitora do "Mil Folhas" aqui. E quanto ao coração, eu tomo (quase) todos os dias um suplemento vitamínico de riso com um grande copo de água de música. É limpinho! Mil beijinhos, querida Madalena, e uma óptima semana :)

Anónimo disse...

Achei uma maravilha o teu post.O artigo "dava pano para mangas"...mas a modista (que eu não tenho) está de férias.
Também não sou pelas verdades absolutas,mas lá que somos diferentes é incontornável.Não foi por acaso que só tiraram A costela ao Adão(e se calhar aquela que razava mesmo o coração)e não tiraram O fémur por exemplo.
É só para rir Madalena,porque dizem
que além do amor,é o que faz melhor ao coração.
Beijinhos
ana

Pitucha disse...

Olá Madalena

Os teus dois últimos posts são liiindos.
Eu posso ser como tu, quando crescer?
Beijos

lilla mig disse...

Ui, ui, o amor, que questão bicuda! Mas, como dizes, verdades absolutas não as há e ainda bem! Cada um vive a coisa à sua maneira, mas é sempre bom passar por esta vida com uns amores na história, seja por amar ou ser amado! :)

t-shelf disse...

A pitucha é invejosa e como somos primas eu também sofro do mesmo. Oh Maddy manda lá um bocadinho dessa tua verve para uma prateleirazita, mesmo que fique escondida nos confins da estante. Beijinhos
P.S. Para quando o nosso encontro na Taberna do Ilhéu?

Teresa disse...

Parabéns pela excelente (como sempre)divagação pelo tema do amor. É verdade, cda um vive-o à sua maneira, mais ou menos explícita, mas importante é o que vai cá dentro. felizes dos que conseguem exteriorizar por palavras ou acções o amor que lhes vai cá dentro. Dve ser "bué de bom", egoisticamente falando. Quanto aos poetas e alguns conheci, nem sempre na vida conseguem praticar aquilo que idealizam e escfevem. São geralmente homens, será por vergonha? De facto, as mulheres são mais explícitas nos seus sentimentos, conseguem mostrá-los (umas vezes com verdade, outras não). Como já vi por aí escrito, podías emprestar-me um pouco da tua natural e cativante habilidade para a escrita? Como sabes sou um desastre! Mês de Maio, colestrol elevado, peso a mais...isto faz-me lembrar que tenho que perder o amor a certas perdições! Beijinhos e parabéns

Teresa disse...

Há umas emendas a fazer, mas tu desculpas-me, é que tenho o Johny ao telefone.

lique disse...

Isto de ligar o coração e o amor... :) Pois, a verdade é que o amor faz bem ao coração, quando é um amor feliz, claro. E música e riso. Tudo óptimos remédios! Beijinhos, Madalena.

Emilia Miranda disse...

Olá Madalena:
Depois do que li no "post" e nos comentários anteriores apenas posso dizer: PARABÉNS!
Um abraço,
Emília.

Mitsou disse...

Mais do que o riso e a música, que antes referi, o que melhor faz ao coração é o carinho dos amigos. Sabes do que falo, Madalena, e por disso te deixo aqui outro beijo enorme, linda!