quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Mafra e Saramago

Será Mafra ainda o destino saloio dos Lisboetas, ao domingo à tarde?
Até lá chegarmos há moinhos na paisagem e as trouxas na Malveira. Bem perto, a Olaria do Zé Franco! E o velho oleiro? Será que ainda ali está, moldando as suas figuras, oferecendo um copo de vinho e perguntando, com simpatia, se gostamos daquele lugar?
Em Mafra, terra propriamente dita, todos os caminhos vão dar aos sinos do famoso carrilhão do Convento. Ouvem-se num raio de quinze quilómetros. Os duzentos e vinte metros de comprimento tornam este monumento uma verdadeira omnipresença naqueles lugares, que recendem uma respeitável tranquilidade histórica.

José Saramago conta, na sua obra máxima, a construção deste convento e de pessoas que ao lugar e ao tempo ficaram para sempre ligadas.
Baltasar, o Sete-Sóis, ex-soldado. Perdeu a mão, tem agora para seu lugar um monte de ferros guardados. Pedinte em Évora. Na primavera, dirige-se a Lisboa. Pernoita em Aldegalega. ”Passou a noite em paz.” De manhã cedo, a maré é boa, paga a passagem e atravessa o rio. ”Na outra margem, assente sobre a água, ainda longe, Lisboa derramava-se para fora das muralhas.” Há-de seguir para Mafra, para abraçar a mãe, Marta Maria, que não sabe se o filho é vivo ou morto, por isso o julga morto ou vivo.
A mulher, Blimunda, filha de Sebastiana Maria de Jesus. Tal como a mãe, ela tem poderes: vê dentro das pessoas. Para que isso não aconteça, logo de manhã, deve quebrar o jejum, antes de abrir os olhos. Mas promete a Baltasar nunca o ver por dentro.
O Padre, Bartolomeu Lourenço, mais tarde, Gusmão, depois de ser Doutor da Igreja. Fala a Baltasar dos seus projectos de voar. Por isso, lhe chamam o Voador. Afirma-lhe que já voou, ao que o pobre replica que só pássaros e anjos voam. Ou os homens quando sonham. “...mas em sonhos não há firmeza.” Mas o Padre contrapõe: “O homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre, um dia voará...” Mostra a Baltasar um desenho do seu engenho voador. Baltasar vê o desenho de um pássaro e acredita que o homem pode voar.

Imagem daqui
José Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga, Ribatejo. Teve numerosos empregos e diversas profissões: foi serralheiro mecânico, editor, jornalista... A sua primeira obra data de 1947, Terra de Pecado tendo-se seguido um longo período sem qualquer publicação.
Em 1993, já autor consagrado, retirou-se para Lanzarote, onde vive desde então, com a sua mulher Pilar.
Em 1998, a mais alta distinção literária surpreende o escritor em pleno aeroporto de regresso a casa. Vinha da Feira Anual de Frankfurt. E regressou à Feira, onde o esperavam as primeiras emoções e as primeiras rosas. As primeiríssimas, viveu-as sozinho, segundo conta, nos intermináveis corredores do aeroporto, depois de ter sido chamado ao telefone, para lhe comunicarem a razão pela qual não devia embarcar.

5 comentários:

Pitucha disse...

Bonito post Madalena.
Beijos

Anónimo disse...

Adoro Mafra e, como tal, como é possível não se gostar de uma obra como o Memorial do Convento? Até lá há, salvo erro, uma loja, ou café, ou algo assim que se chama "Sete sóis". :) Beijinho e Obrigado por me recordar deste amor que tenho por aquele sítio tão lindo!

Formiga Rabiga disse...

Madalena, a Pitucha está aqui, está a comprar a obra toda (não me refiro ao convento, mas sim aos livros do Saramago).
; )

Beijinhos

Pitucha disse...

Formiga (desculpa ocupar o espaço, Madalena, mas certas provocações não podem ficar sem resposta!), eu tenho imensos livros do homem (sim, eu sei que sou uma caixinha de surpresas...). O último (cujos direito de autor tu te propuseste violar :-)) é que ainda não comprei. Lá chegará!
Beijos às duas

Flávio disse...

Fiquei a conhecer Mafra neste mês, graças às filmagens do 'Bocage' - interpreto um dos perseguidores e carcereiros do grande poeta setubalense.

Gostei da terra, sobretudo de um restaurantezinho mesmo em frente ao convento, onde se come um cozido à portuguesa delicioso.