domingo, 29 de janeiro de 2006

Finalmente posso usar os versos que trouxe da infância. Com alguns ajustes, claro!

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.


É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...


Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.


Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!


Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...


Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...


E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...


Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...


E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.


Os versos de Augusto Gil, que todos aprendemos, lemos e decorámos.
Nunca tinha visto nevar. Foi a primeira vez.
Como tudo o que a natureza gera, sem intensidade e sem violência, é um espectáculo...

6 comentários:

Anónimo disse...

Bonito mesmo! O entusiasmo da minha neta foi indescritível.
Beijinhos

Anónimo disse...

Vai espreitar a versão do kamikaze!

Luisa

Unknown disse...

Gostei muito da neve "...sem intensidade e sem violência", porque eu gosto é do Verão. Gostei ainda mais de ver a alegria do meu filhote. Sem darmos por isso, apareceu-nos calçado com as suas botas para a neve (que a minha irmã lhe ofereceu pois tem o vicio do ski), com casaco vestido e chapéu: "Vamos para a rua! Vai-te vestir papá!". Ainda hesitei, mas como nao gosto muito de frio e ele tem estado doente acabámos por ficar a vê-la cair sobre o rio.

Anónimo disse...

Então, toma lá outro, da minha infância lol:

Oh bela Lourenço Marques
mas que linda que tu és
da província és capital corre o Índico a teus pés.

- havia mais, uma por cidade... topa só esta:

Mirando a serra altaneira
a linda Vila Cabral
João Belo, ribeirinha
dois amores de Portugal

ah, pois é, ela é zambeziana:

Quem viveu em Quelimane
não pode esquecê-la mais
Vasco da Gama chamou-lhe
a Terra dos Bons Sinais.

Nampula tu és a linda
no planalto erigida
pareces a Primavera
de garridice vestida

- beijo, uma da escola primária...

Anónimo disse...

Mana: ontem, quando fechei os olhos para adormecer, voltei a ver a neve a cair, a cair, e pareceu-me que estava de novo dentro daquela bola de cristal que pegávamos na mão e revirávamos para voltar e voltar e voltar a ver a neve cair. É claro que a versão de Narnia também não é má... mas ver neve em Lx. que Presente lindo! Foste tu que me mandaste? Bjs Manana

Anónimo disse...

Puxa Madalena,nunca tinhas visto nevar...eu sei que és de África...mas a Estrela está tão perto...Beijinhos.Há sempre uma primeira vez.