segunda-feira, 13 de março de 2006

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“- Não há nada a explicar. ( diz o professor de Ciências à professora de Italiano) Querem uma escola mais activa? Com mais horas, mais aulas, mais turmas, mais alunos, mais disciplinas, mais anos, mais tudo? Muito bem, então há que aumentar o número de professores, claro.( ...) Mas o que é que acontece? É simples: como a excelência, em todos os domínios, só pode ser atingida por uma minoria exígua da população, se aumentas o número, dás por ti a pescar na maioria e a apanhar peixes cada vez menos excelentes, mais médios, mais medíocres. E assim baixas o nível médio da classe docente.”
Tão simples, não é verdade? Tão incontestável! Mas atenção, este professor é incómodo, diz verdades e, pior que tudo, pensa-as. A maior parte de nós já perdeu o treino de pensar e o tempo para o fazer também. O sentido do dever impõe-se e, quando damos conta, passaram anos e o nosso nível de exigência já está pela metade e os conteúdos leccionados pela terça parte. Quem perde? Todos! Especialmente as nossas crianças que nunca conhecerão uma escola “a sério”. Conhecem aquela escola simpática, pouco exigente, que os vai conduzir a um mero diploma do Ensino Básico. Ou talvez o ponha à porta da Faculdade, quem sabe? Mas não lhe venha pedir contas, se não conseguir sair de lá a tempo e horas de começar carreira profissional, antes dos cabelos brancos.
Mas os alunos, tenhamos essa esperança, talvez venham salvar este sistema. Na página setenta e oito ("Eu até sei voar") uma aluna pede que a professora os ensine a escrever, e outro colega, “com o capacete em cima da carteira”, explica que nunca ninguém os ensinou a escrever. E "a professora" faz as contas aos anos de Ensino Básico e Secundário e, alarmada, conclui que eles já tiveram mil e novecentos dias de escola, dez mil horas de aulas e não sabem redigir “três linhas numa composição...”. “Uma caneta, meus senhores! Uma caneta e um caderno. Só isto. Para determos os pensamentos, basta uma caneta e um caderno: escrever é isso.”
Reflexão antiga a propósito de "Eu até sei voar", de Paola Mastrocola

Imagem daqui

4 comentários:

Anónimo disse...

Madalena, como sempre acertas em tudo... Hoje sinto-me assim. Afinal não sou a única e esta profissão (que eu tanto desejei) está a levar-me para um caminho diferente daquele que eu estava à espera. Tem sido difícil, desolador, cansativo, aborrecido, incómodo, infeliz e muito mais... Esperemos que os nossos alunos venham a salvar este sistema, pois os antigos alunos (eu) não estão a conseguir.

Madalena disse...

Patrícia, eu não acerto em tudo. Se assim fosse, montava um negócio e tu serias minha parceira de negócio... Esta é mesmo uma missão, Patrícia! Por isso há tanta infelicidade para ultrapassar, tanta desolação. Mas não há outro caminho, senão este que, apesar dos decretos, da burocracia, da Ministra, etc, vamos trilhando! Eu não acredito em gerações, acredito em pessoas. E acredito em ti!
Beijinhos para ti!

papoilasaltitante disse...

Pois eu só posso concordar com a Tété e com muito do que dizes no post!! Os professores estão desalentados e combatem sozinhos contra coisas muito mais atraentes para os alunos do que uma escola sem meios!!!
Se não fosse a carolice de muito professor nem sei então o que seria...
Cada vez vejo mais e mais professores que dizem sentir-se assim desalentados com este sistema de ensino... nunca em 18anos de carreira senti tanto isso como este ano! E sabes... acho que as nossas crianças não são felizes na escola... não que eu ache que a escola deva ser apenas um local aprazivel e divertido, deve ser um local de esforço e de trabalho mas que conduza a um outro prazer... o prazer de aprender... A escola que temos hoje é neste momento um local de seca.. e de prisão...

Madalena disse...

Teté e Papoila, estamos no mesmo barco... Este livro desta autora italiana já eu li há três anos. Já nessa altura encontrei tantas "coincidências"! Estranho é que passados dois ministros, as coincidências continuem!
Beijinhos