sexta-feira, 9 de junho de 2006

O Poeta Padroeiro

José Gomes Ferreira nasceu no Porto, no dia nove de Junho de mil e novecentos.
(Não sei a razão mas gosto mais dos números em palavra!)
Aprendi a apreciá-lo pelos versos. Depois a prosa, sempre num tom de ironia, umas vezes mais amarga, outras vezes menos amarga, que nos dá a certeza que também na prosa o poeta é poeta: não lhe passam ao lado as dores da vida, mesmo as dos outros.
O Mundo dos Outros é pois uma obra que eu conheço bem, graças aos programas de Português dos idos tempos do ideal, setenta e cinco, setenta e seis e por aí.
É aí, num dos pedaços desse Mundo dos Outros a que ele chamou Boca Enorme, é aí, dizia que está a expressão mais dilacerada da sua consciência cívica.
O percurso da Boca Enorme começa na Colónia Balnear do Século e acaba na Prisão. Entretanto há a rua, a fome, a prostituição, o roubo.
O poeta, trespassado pela dor da culpa que toda uma sociedade deve sentir perante casos como este, escreve:
"Soltem-na!
E se precisarem de alguém para a substituir na enxovia, prendam-me a mim, prendam este, aquele, tu, o outro, ele, nós, vós, todos... Porque todos lhe roubámos qualquer coisa antes de ela roubar qualquer coisa a não sei quem... Porque apenas lhe demos meia dúzia de manhãs de sol na Praia da Cruz Quebrada, onde a pobre da "Boca Enorme" se esforçou por viver a vida toda, duma só vez."
balnearsépia

2 comentários:

Pitucha disse...

Espero que tenhas tido um bom fim-de-semana.
Beijos

Anónimo disse...

Olá Mad', beijo, IO.