terça-feira, 27 de junho de 2006

Um homem não chora? Tretas!

"Não foram os cães que inventaram os açaimes. Não foram os leões que inventaram os jardins zoológicos. Teriam sido os homens os inventores das leis que os prendem e amarram? As leis foram feitas pelos homens para seu uso próprio. Se lhes não servem, arranjam-se outras que lhes sirvam."Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu em Lisboa, a 3 de Abril de 1926 e faleceu, também em Lisboa, a 27 de Junho de 1993, dizem uns, ou a 23 de Julho do mesmo ano, dizem outros.
Licenciado em Direito, a advocacia não lhe preencheu muito tempo da sua vida. Foi também piloto de Fórmula 2, mas foi nos jornais, nos livros e nas revistas que o seu pensamento rebelde e provocador ficou para sempre gravado.
Gosto muito de recordar a Guidinha, a das redacções publicadas no Suplemento "A Mosca", do Diário de Lisboa, que escapava ao lápis azul, sabe-se lá porquê?! Talvez pela ausência absoluta de pontuação, o que requeria uma atenção redobrada para a compreensão da delirante reflexão sobre a sociedade daquele tempo.
A irreverência de Sttau Monteiro era muito amarga, mas é normal que se fique assim doído profundamente, quando se vive uma situação de perigo limite, como a dos bombardeamentos em Londres, na Segunda Guerra Mundial.
A Guidinha não escapava a essa amargura, mas misturava-se-lhe o humor muito inteligente, muito português, sem a subtileza e o nonsense britânico que também lhe corriam no talento.
Uma das coisas que a Guidinha não suportava era a eterna mentira em que a obrigavam a viver. Tretas, chamava-lhe. Uma delas era o Pai Natal. Um Pai Natal não oferece compêndios (era este o nome dos actuais manuais escolares) de Ciências Naturais! Um Pai Natal não traz do Céu uma camisola dos saldos da Rua dos Fanqueiros. Aí põe-se o problema do Céu ser a Rua dos Fanqueiros!

Imagem daqui

4 comentários:

croqui disse...

porque nunca é demais enaltecer Sttau Monteiro, obrigado!

125_azul disse...

Como sabia das coisas a Guidinha! Vá, sê ainda mais linda e arranja uma composição completa da Guidinha para nós virmos ler aqui! Beijinhos

Anónimo disse...

Grande Luís, que FELIZMENTE (re)inventou o LUAR!!, e que fabuloso foi o aparecimento da Guidinha!! - beijo, Mad' e parabéns por este 'post'!!, IO.

Nelson Reprezas disse...

Ainda hoje acho que poderia contar a história toda do "Angústia para o jantar". Devo a Sttau Monteiro "perceber" que havia escritores portugueses vivos, a literatura portuguesa para mim era uma coisa assim da história, Camões, Eça, Camilo e Garrett, etc.. E foi ele, com o Felizmente há Luar, para o teatro, que me fez reparar em escritores contemporâneos, nomeadamente O'Neill... Já lá vão uns anitos. Pois...