quarta-feira, 26 de julho de 2006

Para os avós (especialmente para a avó Laura)

Hoje é dia dos avós.
Recordo os meus, que permanecem bem vivos no meu coração.
Eu não queria ser injusta nem falar de preferências, mas não seria justo, para a sua memória, não ser honesta nesta recordação. Ao fim e ao cabo não foram eles que determinaram que os afectos corressem assim ou de outra maneira. Foi mais por culpa das vidas que permanecemos mais próximos ou mais afastados.
Da minha avó Madalena herdei o nome, algum verde dos olhos e um sentido de posse em relação à família, nomeadamente aos filhos, que às vezes se torna sufocante para eles e para a vida própria que querem e têm direito a ter.
A minha avó Madalena era imensa, tanto no tamanho como nos afectos. As poucas letras nunca lhe descontaram inteligência nem vontade de saber sempre mais. Falava pouco de si o que eu, hoje, percebo ser uma estratégia de chegar aos outros de forma certeira.
O meu avô Abraão era um homem bom e simples. Lia a Cidade e as Serras vezes sem conta, porque, lá longe, as palavras do Eça lhe devolviam as paisagens do seu berço tão português. Há dias encontrei a sua última carta, queixando-se de ter poucas cartas minhas para ler. E se eu tivesse sabido...
A minha avó Clotilde foi, pelo que a minha mãe me conta, uma mulher forte e corajosa. Ou não fosse a vida uma permanente luta contra as adversidades! O conhecimento da realidade foi o primeiro sinal vital a sucumbir às duras batalhas que ia travando. Os últimos anos de vida passou-os já refugiada nessa irrealidade. Eu era muito criança mas recordo com alguma nitidez as suas feições morenas que, apesar da tez escura, protegia do sol escaldante com um guarda-sol, firmemente elevado acima da cabeça, ao longo de todo o caminho.
O meu avô Jorge era um homem muito severo e a mulher e as filhas deviam obedecer-lhe e segui-lo incondicionalmente. A idade temperou-lhe esta dureza e a sua última família foi claramente beneficiada por essa ternura tardia.
Hoje é dia dos avós e eu quero de alguma maneira honrar a sua memória!
Obrigada, pelas lições de vida!

5 comentários:

CORCUNDA disse...

Justa homenagem.

Anónimo disse...

Estou sem palavras.
Mas, é hoje ou foi ontem?
É uma vergonha, mas nem sei.
És uma querida. Obrigada, Madalena, pela deferência.
Beijinhos

Anónimo disse...

Dois 'posts' comoventes, os dos avós. Um grato beijo, neta!! - outra.

Pitucha disse...

São tão importantes, os avós, não são?
Beijos

Madalena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.