terça-feira, 21 de novembro de 2006

Era uma vez...

livro infantil
Era uma vez uma fada, uma princesa, um anão, um gigante, um rei, um sapo...
Venham todos que todos podem fazer parte da história. Mesmo aqueles que são "diferentes", como o Dumbo e as suas enormes orelhas. Os que não têm mãe, como o Bambi ou mesmo os que já têm cabelos brancos e reumatismo como o Gepetto. Pode vir também o Rodrigo do conto de Torga que acreditou que o Monte da Forca podia esconder tesouros e disse, com convicção, as palavras mágicas. Tudo pode acontecer na floresta branca por onde vagueou o herói deste espaço, João Sem Medo!
Podíamos "inventar" também a "Semana do Livro Infantil".
Vou fazer de conta que sim e vou deixar um conto do século dezanove, com sapos, porque eu gosto de sapos, pronto!
O PRÍNCIPE SAPO
Era uma vez um rei que não tinha filhos e tinha muita paixão por isso, e a mulher disse que Deus lhe desse um filho mesmo que fosse um sapo. Houve de ter um filhinho como um sapo; depois botaram as folhas a ver se havia quem o queria criar, mas ninguém se animava a vir. O rei, vendo que o sapito do filho não havia quem o queria criar, anunciou que, se houvesse alguma mulher que o quisesse criar, lho dava em casamento e lhe dava o reino. Nisto aí apareceu uma rapariga e disse: Se Vossa Real Majestade me dá o filho, eu animo-me a vi-lo criar. O rei disse que sim e a rapariga veio criar o sapito. Depois passou algum tempo e ele foi crescendo e ela lavava-o e esmerava-o como se ele fosse uma criança. Foi indo e ele tinha uns olhos muito bonitos e falava, e a rapariga dizia: Os olhos dele e a fala não são de sapo.Já estava grande, passaram-se anos e ela, uma noite, teve um sonho em que lhe diziam ao ouvido que o sapo era gente, mas pela grande heresia que a mãe disse que estava formado em sapo, que se o rei lho desse para ela casar com ele que casasse e quando fosse na primeira noite que se fosse deitar, que ele tinha sete peles e ela levasse sete saias e quando ele dissesse: Tira uma saia, lhe dissesse ela: Tira uma pele. Assim foi e casou o sapo com a rapariga e na noite do casamento ele pediu-lhe que tirasse ela as saias e ela foi-lhe pedindo que tirasse as peles e depois de ele as tirar ficou um homem. Ao outro dia ele tornou a vestir as peles e ficou outra vez sapo. E ela disse-lhe: Tu para que vestes as peles? Assim és tão bonito e vais ficar sapo. Assim me é preciso, cala-te. Ela, assim que se pôs a pé, foi contar tudo à rainha, e o rei mais a rainha disseram-lhe: Quando hoje te deitares, diz-lhe o mesmo e depois de ele tirar as peles e estar a dormir, deixa a porta do quarto aberta que nós queremos ir vê-lo. Foram-no ver e viram que ele era homem. Ao outro dia o príncipe tornou a vestir as peles e vai o pai disse-lhe: Tu, porque vestes as peles e queres ser feio? Eu quero ser sapo, porque o meu pai tem mão interior e, se eu fico bonito, impõem a minha mulher. O rei disse-lhe: Eu não a impunha, mas queria que tu ficasses bonito. Depois, como viram que ele não queria deixar de ser sapo, pediram a ela que, assim que ele adormecesse, lhes trouxesse as peles para eles as queimarem. Ela assim fez e eles botaram as peles ao fogo aceso. De manhã vai ele para vestir as peles e não as acha. Que é das peles? Vieram aqui o teu pai e a tua mãe e levaram-nas. Mal hajas tu se lhas destes, mais quem te deu o conselho. Adeus. Se alguma vez me tornares a ver, dá-me um beijo na boca.
A mulherzinha ficou mas o rei e a mulher, assim que viram que o filho faltou, puseram-na fora da porta. Ela, coitada, não tinha com que se tratar; o que era do rei lá ficou e ela estava muito pobrezinha. A todas as pessoas que via perguntava se tinham visto um homem assim e assim e lá lhe dava as notícias do príncipe. Vieram por onde ela estava uns cegos e ela fez-lhes a pergunta. Os moços dos cegos disseram-lhe: Nós vimos no rio Jordão um homem e certamente era ele; estava botando fatias de pão para trás das costas e dizendo: Pela alma de meu pai, pela alma de minha mãe, pela alma de minha mulher. Ela disse-lhes: Vocês quando tornam para essa banda? Nós para o fim do outro mês voltamos para lá; havemos de passar por esse rio. A mulherzinha aprontou-se e foi com eles. Chegou lá e era o príncipe. Ela chegou ao pé dele e deu-lhe o beijo na boca como ele tinha dito e disse-lhe: Ora vamos embora, que se acabou o nosso fado. E foram para casa e foram muito felizes e tiveram muitos filhos. De Adolfo Coelho
sapitos
Imagem gentilmente "cedida" por artistas mesmo.
Esta imagem "artisticamente" aperfeiçoada por mim, à máquina, é dedicada à Chuiguita.
Ela trata os batráquios todos por tu, logo deve conhecer este Príncipe!

4 comentários:

Anónimo disse...

Olha que se eu não tivesse a mania de guardar tudo o que é livro, desde os meus tempos de criança, como é que conseguias fazer o brilharete da imagem que abre o post de hoje?

Claudia Ganhao disse...

Boa ideia, apoio a Semana do Livro Infantil! Recordar é tão bom!
Beijinhos

Anónimo disse...

Consta que o 'sapo', em vez de filhos, largou a rã e passou a comer 'chuinga'... - beijo, uma que ainda hoje gosta do Dumbo, Gepetto, etc.

Anónimo disse...

lol!!, o que a Madalena konsegue, chuinga de sapinho... - beijo divertido e sensibilizado, IO.