sábado, 11 de novembro de 2006

Sobre hoje

At 11 o’clock in the morning of the 11th day of the 11th month of 1918, the First World War - known at the time as the Great War - comes to an end.
É o destaque da História deste dia, em "This Day In History".
Foi há quase um século. Foi certamente um momento em que a humanidade reflectiu sobre o valor da paz e, com mais ou menos vontade política, optou pelo fim da guerra.
Mas os homens que fazem a guerra ou a paz morrem e com eles morre também, parece-me a mim, que não sei nada destes assuntos, que morre também, dizia, o conhecimento do bem. Parece que a humanidade se desafia ciclicamente, quase permanentemente, experimentando o mal, para depois desejar o bem e fazer qualquer coisa por isso. Muitas vezes pouco. Muito pouco mesmo.
É aí que entra o papel da literatura: ela reflecte para além do tempo e imprime ao sujeito que lê, uma experiência do mal e do bem, da guerra e da paz, do amor e do ódio, de modo a que o conhecimento ainda que virtual possa produzir o efeito do bem. É uma espécie de vacina.
Este efeito que acabo de descrever sentiu-o com um conto de Torga: O Regresso.
É a história de um rapaz que parte para a guerra, "contra a vontade pacífica e humana de todos" e regressa à sua aldeia, apenas por breves instantes. Foram mesmo muito breves esses instantes, mas o Ivo, assim se chamava o rapaz, compreendeu que "morrera há muito para toda a aldeia" e, para bem de todos, o melhor era mesmo não se dar a conhecer. Ele era apenas um farrapo humano, coberto de "cicatrizes" e "remorsos", que a guerra tentava devolver à aldeia!
Penso que a guerra em que o Ivo combateu foi esta, conhecida então pela "Grande Guerra", mais tarde pela "Primeira Guerra"."Casta, orvalhada da mesma frescura que humedecia a fruta nos seus pomares, Leiró acordava de uma noite de sono e de sonho. O primeiro fio de fumo subia já da lareira do João Rã, o madrugador da povoação. Erguia-se branco, preguiçoso, tímido da aragem fria da manhã."
Começa assim o conto.
Fotografia: Trás-os-Montes, Março de 2006.

2 comentários:

IC disse...

Até se sabe que o homem traz em si duas tendências opostas e talvez por isso aconteça o que dizes: "Parece que a humanidade se desafia ciclicamente, quase permanentemente, experimentando o mal, para depois desejar o bem e fazer qualquer coisa por isso."
O que não se entende é que nos sucessivos ciclos continue sempre maior essa experiência do mal do que a tentativa do bem, parece que a história, o "progresso", a cultura não lhe servem para nada
:-(
Beijinhos e bom domingo!

Anónimo disse...

Mal por mal, deixa-me ser egoísta, que nisto das GM, seja mentira aquilo 'das duas sem três'...

Já basta o que há por esse mundo fora!

beijo, IO.