domingo, 3 de dezembro de 2006

Não há escolas de pais nem de mães

A paternidade é um terreno mitológico, onde impera uma certa ditadura amorosa. É suposto que os nossos filhos sejam a melhor coisa deste mundo, e por isso o mundo impõe-nos a seu respeito uma exclusividade de sentimentos cor-de-rosa. Eles têm de ser tudo para nós e nós temos de dar tudo por eles. Quando, a meio de uma conversa, eu digo que a paternidade está um bocado sobrevalorizada, as pessoas descartam-me com um abano de cabeça e toques no braço: "você é um brincalhão." Mas eu não estou a brincar. Os filhos arrasam as noites, cavam olheiras e pura e simplesmente enterram a vida como nós a conhecíamos. Amamo-los por aquilo que nos dão mas, no escuro da noite, bêbados de sono, odiamo-los por aquilo que nos tiram - viagens que nunca faremos, livros que nunca leremos, filmes que jamais chegaremos a ver. É por entre essas contradições que fazemos o nosso caminho e aprendemos a ser pais, esperando que a cada momento o amor vá ganhando terreno e as frustrações cicatrizem, até ao dia em que possamos sinceramente dizer: "são o melhor que tenho e aquilo de que mais me orgulho." Mas demora. Mas sofre-se. As pneumonias levam demasiado tempo a curar. Escreve um jovem pai, João Miguel Tavares, no DN de hoje, na coluna da Opinião.
Este é talvez o assunto que eu melhor domino, provavelmente por "levar já muitos anos disto", como se diz, assim, à pressa do pensamento. Contando com aquele período super cor de rosa (que, no meu caso, foi sempre azul) em que todas as esperanças são possíveis, já perfaço trinta e três anos!
Claro que estas são as palavras de um pai jovem que expressa bem as emoções tão contraditórias desta felicidade suprema que é ter filhos. É que eles são, de facto, a fonte de tudo na vida de alguém.
Mas o pior de tudo, caro pai, quase novinho em folha, é que isto não muda nunca, na maioria dos casos. Aprendemos a disfarçar e respondemos a outras solicitações da vida, para que a aflição permanente com a segurança, a vida, a felicidade deles adormeça, pedindo aos santinhos todos que adormeça para aí cem anos, pelo menos, como a Bela da historinha.
Toda a felicidade dos nossos dias está suspensa no altar do mais afamado santo, especialista em milagres radicais.
(Espero que os santos venham ler estas linhas e que leiam também o texto do DN, trazendo de volta a boa saúde aos pequeninos.)
Os nossos filhos só merecem o melhor.
E quem diz filhos diz sobrinhos ou diz netos, porque a verdade que eu também já "entendi" é que quem não tem filhos de BI transfere, às vezes com alto juro, para a conta dos sobrinhos (e no caso dos avós, para a conta dos netos) estas elevadas somas de afectos e emoções.
filhos

2 comentários:

dakidali disse...

Adorei ler. E assim o sinto.
Beijinhos

Anónimo disse...

Madalena, adorei a foto...
Pena estar em penumbra, mas dá para perceber toda a ternura. Que saudades destes miminhos!...O tempo fá-los por vezes tão cerimoniosos, por já serem grandes.
E o tempo passa tão depressa....
Beijinhos
M.Dores