Começou por se chamar Adamastor e por morar num mar revolto.
Guardião de um encontro de oceanos, cumpriu com rigor e determinação o que mais tarde se revelou ser determinação alheia à vontade própria, mas sim desígnio dos deuses.
Tinha a fisionomia dos monstros e alimentava-se de medos, diziam. A esperança, tão contrária ao medo, inspirou um novo baptismo.
O poeta fala de uma "figura" de "disforme e grandíssima estatura", de "um rosto carregado, a barba esquálida, os olhos encovados", de uma "postura medonha e má", da "cor terrena e pálida", de cabelos crespos, cheios de terra, "a boca negra e os dentes amarelos".
Quem quis saber mais sobre esta figura que, em tamanho, equivalia ao Colosso de Rodes, interpelou-o com os tremores da coragem de quem sabe que a História espera uma resposta e que a sua missão é abrir o caminho a essa resposta: "Quem és tu?"
A resposta não tardou e começava assim: "Eu sou aquele oculto e grande Cabo..."
E prosseguiu com as suas origens divinas, seus antepassados deuses: filho da Terra, quis o destino que se apaixonasse por uma ninfa, ou seja, por uma Princesa das Águas. Vítima de uma miragem, nem a condição divina lhe permitiu escapar à infelicidade que o desgosto de amor causa nos amantes.
Atraído pela visão enganadora, petrificou em medo e em castigo, rodeado do elemento amado.
Depois de contar aos marinheiros portugueses a sua triste história, rompeu num "medonho choro" e desfez-se em "nuvem negra".
1488, 3 de Fevereiro - Bartolomeu Dias dobra o Cabo da Boa Esperança
Para ti, Pedro, na esperança de que, estejas onde estiveres, saibas que os tuas marcas continuam vivas. Este teu Adamastor não morrerá nunca e a doce recordação de ti também não!
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