terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Nemésio, a memória viva

Morrer ou não morrer, eis a questão, parafraseando um poeta máximo da Língua Inglesa, a propósito dos poetas máximos das nossas línguas que numa palavra se dizem "lusofonia".
É o que me ocorre dizer no dia em que passam vinte e oito anos sobre o dia em que morreu um poeta ilhéu, de "território pátrio circunscrito" como ele próprio diz, mas que se inscreveu, pela obra em géneros vários, em espaços outros para além dessa ilha onde nasceu. A minha memória feita de células que um dia vão desaparecer recorda o dia em que o viu sair da Faculdade de Letras de Lisboa, onde tinha acabado de dar a sua última lição. Mentira! A última lição não a deu nunca, porque buscando os seus escritos, as suas palavras ditas, encontraremos sempre uma nova lição que, com toda a garantia, não será a última. Ele também o disse, não sei se com mágoa e ironia ou por razão diversa, isto é, a de um outro conhecimento inerente aos seres humanos de pura estirpe literária.
"Dou a minha última lição de professor na efectividade e em exercício, segundo a lei. Claro que a lei só tira o exercício ao funcionário: o homem exerce enquanto vive."
Enquanto não morre, poeta, atrevo-me a acrescentar! E a morte de Vitorino Nemésio não será nunca anunciada.
Ouça-mo-lo, graças ao registo aqui deixado pelo Instituto Camões.
Mas quando eu morrer, só por geometria,
Largando a vertical, ferida do ar,
Façam, à portuguesa, uma alegria para todos;
Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;
Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos,
E levem-me - só horizonte - para o mar.

Leia-se o seu Testamento.
Eu deixo-lhe um mar, em sua memória, terreno arável e fértil para qualquer poesia.Imorredoiro, como o poeta!
mares por navegares

2 comentários:

Pitucha disse...

E eu passo por aqui a correr para te dar um beijo.

Nelson Reprezas disse...

Madalena, está um UTube da Marta da Stella lá no Espumadamente. O local é no Coconuts, no antigo Minigolf, não sei se é do teu tempo.
Beijinho