sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Prémio do nosso contentamento

Já disse como é que conheci o escritor, ou melhor, a escrita de Mia Couto?
Já devo ter dito. Em quase três anos de blog, já devo ter dito quase tudo sobre o que de importante me aconteceu na vida.
Não estou a exagerar, o que não deixava de ser legítimo e normal.
Tropeçar numa voz da minha terra abriu caminhos para entranhas do pensamento que eu não ousava tocar.
áfrica
E ali estava, nas minhas mãos, nas páginas de um livro, o sentir das gentes que, ao fim e ao cabo, são diferentes e são iguais, pois a massa humana é uma, apenas: mistura de músculos, ossos, tecidos, órgãos... Analisada a lágrima da preta é "água quase tudo e cloreto de sódio", como a lágrima de qualquer sueca ou dinamarquesa... Mas o que dói é pensar na guerra, na fome, na condição pobre para que parecem destinados os povos de África. Claro que a tragédia e a cor da pele não têm qualquer ligação directa, mas, às vezes, parece que para ser feliz é preciso ser belo, magro, jovem e, quem sabe, também branco.
Foi esta "África", minha pela memória, que encontrei em Mia Couto, ontem distinguido com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas.
Nunca será demais lembrar a uma parte do mundo que há um lado do mundo onde moram os desfavorecidos da sorte, onde nem uma migalha do pão de cada dia está garantido, onde a escola é um sonho lindo, onde todos os direitos consagrados para a humanidade são ainda uma causa, com muita luta pela frente...
Tenho para mim que Mia Couto será o próximo Nobel da lusofonia!
É uma ideia minha e vale o que vale. Mas tenho essa ideia sobretudo pela reinvenção do português novo, feito de palavras mestiças, enriquecidas por isso, de beleza verdadeiramente única.
"Abensonhados" prémios que promovem a divulgação do escritor moçambicano, da escrita moçambicana, à escala do mundo dito culto!
Se algum dia chegarmos a alguma justiça humana será com as armas da cultura!
mãe zambézia
Obrigada, Mia Couto!
(Fotografias- Alto Molocué, anos 50)

3 comentários:

Anónimo disse...

E já somos duas, Madalena, há muito que penso que o próximo Nobel em Língua Portuguesa será o Mia!

Sabes, ele fez ao português falado no Índico o mesmo, traduzindo todas as distâncias, que Boccacio, Dante e Petrarca fizeram ao latim falado nas ruas toscanas, escreveu-o em papel e é por isso de um valor que ficará para a História, a que só se dará o verdadeiro valor no futuro.

Beijo, uma que acha que não conseguiu dizer o que queria, paciência...
IO

Pitucha disse...

É um escritor fenomenal, sem dúvida!
Beijos

Anónimo disse...

Eu acho que já disse aqui quanto gosto de Mia Couto. Mas não faz mal, digo outra vez. Quando ele publica um novo livro, interrompo tudo para o ler, ler e saborear. Quanto ao Prémio Nobel, não sei, não... Também achei que Jorge Amado o mereceria...
Beijinhos beirenses