O dia do Silêncio?!
No hospital de L.M., então chamado Miguel Bombarda, havia uma ala de Psiquiatria. Havia médicos e doentes, mas nem uns nem outros granjeavam na altura o respeito que percebo agora existir numa sociedade dita de inclusão. Não sei bem se o respeito é respeito ou se é apenas um disfarce do medo.
Lembro-me de dois médicos psiquiatras com quem o meu pai trabalhou. Um deles era o Dr. Sobrinho. Era um homem afável, cuja aparência física se caracterizava sobretudo por um bigode farto, de onde brotavam uns dentes, bastante afastados uns dos outros, que pareciam morder o lábio inferior. Sorria com aquele ar bondoso que tanto pode vir de um são como de um louco. Vem normalmente de homens bons. Isso, sim!
(O que é que isto tem a ver com o silêncio?
A memória, pelo menos a minha memória é silenciosa, sobretudo em certos recantos.)
Contava o meu pai que, um dia, se dirigiu ao Dr. Sobrinho, pois precisava de conversar com ele. Nesse dia, que talvez fosse o Dia do Silêncio, não houve conversas para ninguém. Hoje não, disse o médico. Não diga nada, Gouveia, que o silêncio é de ouro. Pois é Doutor, mas a palavra é de prata. Entre os dois metais preciosos, é fácil de concluir que o silêncio é mais valioso!
Eu gosto do silêncio.
Olhando o mar, gosto de ouvir o barulho do mar sair sozinho do silêncio.
Gosto de sons que se inscrevem no silêncio para despertar boas sensações e boas emoções.
Ô meu pai contava esta história para ilustrar a verdade sobre o valor do silêncio. Também sobre o valor da amizade.
3 comentários:
Não quero perturbar o teu silêncio. Passo de mansinho, em bicos de pés, para te soprar um beijo grande.
Lindo texto, Madalena.
Beijinhos
O silêncio é um espaço no tempo mesmo especial. É assim levezinho e dá para viver tantas sensações...gostei muito do teu texto.
Está um silêncio contagiante ...o silêncio também é cuidado, carinho,etc., etc. e não quero também perturbar o silêncio que aqui está!
Beijinhos, Madalena
M.Dores
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