sábado, 15 de setembro de 2007
Dos livros, os que marcaram e os que não.
Dos livros, os que marcaram e os que não. É o que diz a IO, a Chuinga, para animar a malta que gosta destas coisas de correntes. Eu gosto!
Vamos por fases! A primeira infância, os tenros anos. Tal como tenho lido por aí, não penso que os livros tenham mudado a minha vida, mas todos, todos, mudaram o meu pensamento. Alguns, muito! Alguns, pouco!
O primeiro livro que me mudou por dentro foi, sem dúvida, Sem Família, de Hector Malot. Aquele medo que eu tinha de perder a minha mãe estava lá. Eu não era o único ser no mundo, pelo menos havia mais como eu, no mundo dos livros, a sentir que o pior que pode haver na vida é não ter mãe. É evidente que estes medos só me assaltavam para lá dos muros do quintal da minha avó, porque, aí, eu estava no Paraíso.
(Na confusão inocente dos poucos anos, eu tinha arranjado uma solução para o caso de perder a minha mãe: eu desaparecia também. Ali, para os lados da Pinheiro Chagas, que nem sequer era muito longe...)
Este livro revelou-me a possibilidade de uma sobrevivência. Difícil, claro!, mas mesmo assim, sobrevivência. Depois havia o Futuro que era o Paraíso, outro Paraíso, lá longe! Era outra vez o quintal da minha avó, em grande!
O segundo e o terceiro livros vêm agarrados à mesma memória e ao mesmo tempo: os Poemas de Reinaldo Ferreira, livro que me ensinou tudo o que era preciso saber sobre poesia. Literalmente! "Não ponho esperança em mais nada e se puser..."
O terceiro livro, o tal que vem agarrado ao mesmo tempo dos poemas de Reinaldo Ferreira é o Principezinho. Li-o em francês e tive, mais tarde a sorte de o ler, vezes e vezes sem conta, em bom português, numa tradução muito boa, que eu acho que já não está a ser publicada. A grande diferença é que uma falava em "criar laços" e a outra não.
Numa altura em que a vida estava toda por descobrir, li então o primeiro livro de gente crescida: Olhai os lírios do campo, que alertou o meu pensamento para a necessidade de seguir sempre o ideal e que a confusão de valores pode comprometer o sentido de uma vida inteira.
Quando os estudos me impunham uma literatura estrangeira eu refugiava o meu prazer de ler na língua portuguesa de aquém e além mar: Dona Flor e os Seus Dois Maridos divertiu-me imenso (o embrião da second Life); O Meu Pé de Laranja Lima comoveu-me imenso (quando não há gente, há uma planta, um arbusto, uma flor!); O Primo Basílio chocou-me imenso (como é que se pode morrer às mãos da chantagem?) e por aí fora. Mas onde as minhas emoções serenaram foi mesmo na Cidade e as Serras, o livro que o meu avô lia e relia, vezes sem conta, sem eu perceber porquê. Depois deste, veio o Torga, e o seu Diário, ou melhor, o Torga todo! Depois do Torga, o Mia Couto, que me devolveu, através dos pequenos contos do Cronicando, as minhas raízes esquecidas, adormecidas, como a outra que se picou no fuso.
(O post há-de continuar com os que não...)
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1 comentário:
Como são bonitos os teus 'posts', digo eu ao ler os últimos três.
Que maravilhosa, a tua entrada no 'post' dos livros! - beijo, eu à esperados não.
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