segunda-feira, 11 de agosto de 2008

As tardes dos dias esquecidos

Depois do almoço, ficavam as mulheres.
Também era o que havia: mulheres. A minha avó, com uma presença imensa. As minhas três tias, todas maravilhosas, cada uma na sua especialidade: gostar, tratar feridas, não só do corpo, mas também as outras, brincar, ensinar. As quatro mulheres conversavam e bordavam. Conversavam e faziam crochet. Conversavam e faziam tricot, conversavam e cosiam. Alinhavavam, cosiam, provavam, descosiam, tornavam a coser. Sempre a mesma alegria de viver. Sempre a mesma capacidade de gostar. Sempre a mesma coisa. Todas as tardes.
Era uma divisão da casa que era de todos e não era de ninguém. Era o quarto das tardes. Elas eram as verdadeiras donas desse quarto.
Quando algum de nós estava adoentado, ia para lá, deitava-se na cama alta, de ferro e colchão de palha. Duas, três tardes e a doença passava.
Se as paredes do quarto das tardes falassem (se o quarto das tardes e a casa ainda existissem...) tinham muito que contar. Por ali passaram as grandes desavenças familiares, as traições, os adultérios, as zangas de noras e sogras...
(Espero que esta parte da sogras e das noras não se repita.)

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