quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Recado à aluna!
Querida Aluna!
Obrigada por me teres trocado pela Farmacologia. Vou tentar merecer a tua escolha!!
Falas em conhecer-me melhor e eu quero dizer-te que me conhecias bem, no contexto escola/ professor/ aluno. As relações devem ser sempre verdadeiras e só não são iguais porque os contextos em que as estabelecemos são diferentes. O que aqui lês também é parte de mim, isto é, uma parte de mim, verdadeira. Mas há também uma parte de mim que não está aqui, porque este meio tem os seus quês. Há medos que não contornamos na totalidade e, por isso, não podemos expor-nos como eu gosto de me expor ao sol, no Verão!!!! Mas este meio tem também a grande vantagem de só revelar de nós aquela parte mais importante: o miolo de nós, sem medidas, sem rugas, sem vaidades físicas. E assim torna-se possível uma comunicação ao nível do pensamento quase puro. Digo quase porque há sempre a possibilidade de nos (re)conhecermos pessoalmente! Além disso na escola tenho uma responsabilidade funcional, que eu esqueço com frequência, felizmente. Os anos deram-me essa capacidade!
A vida que vais ter vai dar-te inúmeras alegrias, inúmeras compensações. Vais ver!
Vais perder a conta aos "seres" que te vão abraçar com a força do reconhecimento e da gratidão!
Tenho também os meus erros de relação numa caixa tipo cofre. Só eu sei o código. E acredita que gostava de poder pedir perdão aos alunos em quem infligi algum desgosto, sem querer.
Um dia, levianamente, quando faltava muito para o ano dois mil, combinei com os alunos: quem estivesse vivo devia comparecer, num determinado local, no primeiro dia desse ano. Quando o dia chegou, lembrei-me, mas desencorajei o meu desejo de passar pelo sítio combinado com aquela desculpa tola: quem é que se vai lembrar da velha professora?
Mas houve um aluno que se lembrou e esteve lá. Chorou a desilusão e foi-se embora magoado e sozinho. Uns anos mais tarde, cinco, para ser mais precisa, encontrou-me e mostrou-me a mágoa. Aquela mágoa valeu-me uma condenação não redimível em penitências.
Outras mágoas terei provocado e por elas eu gostava de pedir desculpa.
Como vês, provocas muito mais reacções do que podias prever.
(Se me vires por aqui, o que é fácil, diz-me: olá eu sou a ic! Combinado?)
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2 comentários:
Querida Madalena, os nossos (próprios) erros são sempre tão implacáveis que chegam a ser belos por isso.
Este teu texto é uma comoção.
miguel
Obrigada, Miguel, pela visita e pelo comentário. este meu erro foi irreparável. Mas sabes que os alunos também se lembram das partidas que nos pregam. Há dias encontrei uma aluna de há vinte e muitos anos, num corredor de um hospital. É sempre muito comovente um aluno lembrar-se de nós, tanto que a última coisa da qual me lembraria era da partida: puseram-me fita cola na cadeira. Ela lembrou-se e eu tomei isso como um acertar de contas que ao fim de muitos anos perdem valor de maldade. Beijinhos, Miguel!
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