terça-feira, 12 de agosto de 2008

Torga

Hoje é dia de recordar Torga.
Aniversariamente, como diz outro poema de outro poeta.
Miguel Torga nasceu a 12 de Agosto de 1907. Escreveu como ninguém sobre as sombras que nos habitam. Fê-lo na primeira pessoa, não se excluindo nunca, por ser quem era, poeta, escritor, médico, homem culto e instruído, dessa espécie de avesso cheio de costuras que somos por dentro. Muitos não terão gostado, por se verem expostos nessas radiografias de alma tão precisas e certas, o que levou alguns críticos a condená-lo pela amargura.
No entanto, o ser taciturno também contou histórias que ilustram a presença do bem na vida de muitos, de muitos que aparentemente terão nascido já fadados para a condição do homem castigado pelo pecado original.
A natureza é assim a grande redenção original. Que o diga o Rodrigo, o pastor que mandou abrir o Monte da Forca à procura de um tesouro igual ao do Ali Babá. Salvou-o da desilusão profunda o balido de uma das suas ovelhas que oferecia ao mundo mais umas crias. Que o digam os contrabandistas e os guardas da fronteira, que se unem pela vida e pelo chamamento do amor nos corpos despidos de fardas e outros preconceitos! Que o diga o Garrinchas, versão literária de um sem-abrigo de outros tempos e de outras terras distantes das grandes. Ele conseguiu chegar à fala com as figuras do presépio e fazer ele mesmo parte desse presépio que tantos de nós tentamos em vão imitar!
Na homenagem dos seus oitenta anos, Torga disse aos que com ele celebravam a data:
"Se gostei muito de ser lido, gostei sempre mais de ser amado. E fui-o felizmente. Apesar das arestas que herdei das fragas nativas, e de ferozmente rebelde a todas as transigências e conivências que são o quotidiano social, tive quase sempre ao lado um Cireneu para me aligeirar o peso da cruz. Ora é precisamente o que está a acontecer agora. (...) E não podem calcular o que vai cá dentro em termos de comoção e gratidão."
Este pedaço de discurso revela bem o lado do poeta que muitos teimaram em não conhecer. E que paz ele traz à nossa consciência de seres simples. Simples como o granito do seu berço, como as mimosas do recreio da sua escola...

2 comentários:

Unknown disse...

Obrigada por me lembrares o quanto Miguel Torga é valioso!

Anónimo disse...

*****

De um lado terra, doutro lado terra,
de um lado gente, doutro lado gente,
lados e filhos desta serra,
o mesmo q´ú os olha e os consente.
Torga

sempre recordado por Trás os Montes