Queridos José, António, Ana, Joana, Patrícia, Sofia e tantos outros, que ficaria aqui a eternidade que me resta, a escrever os vossos nomes.
Se vos perguntarem, na rua, na escola, em casa, na pizzaria, se conhecem o Magalhães, dirão logo que sim, que é pequenino e engraçadinho. Que é muito giro, em suma!
Não sei se sabem quem vos está a escrever esta carta?
É o próprio Magalhães, de quem tão pouco sabem, pois a toda a hora se fala do Magalhães, o computador e nunca se ouve falar deste outro Magalhães, o navegador.
Enfim, é só mais um dissabor a juntar ao maior que tive na vida, quando D. Manuel reprovou o projecto maior dos meus sonhos de mar: navegar, navegar, navegar, até cumprir uma volta inteirinha à terra.
Diziam que não era possível, mas eu acreditava que sim, que havia de haver passagem, por estreita que fosse. E havia mesmo! Essa passagem ficou com o nome do vosso computador. Desculpem, também já estou quase a deixar-me embalar pela máquina da propaganda! Essa passagem ficou com o meu nome: Estreito de Magalhães.
Um dos historiadores do vosso tempo afirma, com muita certeza, que o que eu queria mesmo era descobrir um caminho para as Ilhas Molucas, por mar. Andaram a coscuvilhar umas cartas que troquei com um amigo que foi para as Índias.
Fui então apresentar a minha proposta ao jovem governante do reino vizinho, futuro Imperador Carlos V, e tive mais sorte. Os meus pais eram espanhóis e o meu sonho era universal, pois isto de ser marinheiro não se explica à luz das fronteiras e dos governos. No mar falam-se as línguas todas e não se fala nenhuma. Ali, o que fala mais alto é o valor da fome, da sede, da vida. Sobreviver é preciso e a vida é um dom mais precioso do que as riquezas de mil orientes.
E sabem o que é que os reinos de Portugal e Espanha queriam destas paragens distantes? Cravo. Uma especiaria que as vossas mães e avós usam na cozinha e que os médicos e farmacêuticos também usam muito. Havia também outras especiarias, mas esta devia ser a mais preciosa, já que um dos que regressou dessa viagem em que perdi a vida, carregou o navio inteirinho com cravo.
Já ouviram falar do Oceano Pacífico? Sabem quem lhe deu o nome? Eu! Para além de ter baptizado o mar, dei também o meu nome a umas nuvens que dali se avistam que afinal são galáxias, isto é, nuvens carregadinhas de estrelas e outros astros.
Pouco tempo depois, envolvi-me numa violenta luta, nas Filipinas e não voltei mais.
Dos duzentos e cinquenta que partimos, só dezoito regressaram. É muita vida perdida.
Mas o que eu não quero mesmo, meninas e meninas das escolas portuguesas, é que percam a memória daqueles que prepararam o mundo para ti, Joana, para ti, Tiago…
Regresso agora à minha condição de personagem da História, feliz por ter contribuído para enriquecerem o vosso conhecimento.
Até sempre!
Fernão de MagalhãesCarta baseada na ideia de José Jorge Letria, que deu forma ao seu último livro, O Que Darwin Escreveu a Deus
3 comentários:
Muito bom Madalena! Gostei imenso :-)
E' tao facil cair no esquecimento, nao e' Madalena? Pelo menos ainda existem umas pessoas como tu ai pelo mundo para nos acordar.
Olá
Aqui estou eu a escrever-te de um magalhães hehehe se der erros a culpa 'e dos meus dedos grandes para teclas tão piquenas!
Estou a passar a tarde no IPO, vim com o meu pai à consulta e a tratamento. Estou ~'a desde a uma, que sorte ter um magalhães hehhe
Amanhã, se Deus quiser, l'a irei ter contigo ao saldanha:) Vamos ver se dou com aquilo, j'a l'a não vou aos anos.
jokas grandes.
Sandra
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