terça-feira, 17 de março de 2009

Carta

Queridos José, António, Ana, Joana, Patrícia, Sofia e tantos outros, que ficaria aqui a eternidade que me resta, a escrever os vossos nomes.
Se vos perguntarem, na rua, na escola, em casa, na pizzaria, se conhecem o Magalhães, dirão logo que sim, que é pequenino e engraçadinho. Que é muito giro, em suma!
Não sei se sabem quem vos está a escrever esta carta?
É o próprio Magalhães, de quem tão pouco sabem, pois a toda a hora se fala do Magalhães, o computador e nunca se ouve falar deste outro Magalhães, o navegador.
Enfim, é só mais um dissabor a juntar ao maior que tive na vida, quando D. Manuel reprovou o projecto maior dos meus sonhos de mar: navegar, navegar, navegar, até cumprir uma volta inteirinha à terra.
Diziam que não era possível, mas eu acreditava que sim, que havia de haver passagem, por estreita que fosse. E havia mesmo! Essa passagem ficou com o nome do vosso computador. Desculpem, também já estou quase a deixar-me embalar pela máquina da propaganda! Essa passagem ficou com o meu nome: Estreito de Magalhães.
Um dos historiadores do vosso tempo afirma, com muita certeza, que o que eu queria mesmo era descobrir um caminho para as Ilhas Molucas, por mar. Andaram a coscuvilhar umas cartas que troquei com um amigo que foi para as Índias.
Fui então apresentar a minha proposta ao jovem governante do reino vizinho, futuro Imperador Carlos V, e tive mais sorte. Os meus pais eram espanhóis e o meu sonho era universal, pois isto de ser marinheiro não se explica à luz das fronteiras e dos governos. No mar falam-se as línguas todas e não se fala nenhuma. Ali, o que fala mais alto é o valor da fome, da sede, da vida. Sobreviver é preciso e a vida é um dom mais precioso do que as riquezas de mil orientes.
E sabem o que é que os reinos de Portugal e Espanha queriam destas paragens distantes? Cravo. Uma especiaria que as vossas mães e avós usam na cozinha e que os médicos e farmacêuticos também usam muito. Havia também outras especiarias, mas esta devia ser a mais preciosa, já que um dos que regressou dessa viagem em que perdi a vida, carregou o navio inteirinho com cravo.
Já ouviram falar do Oceano Pacífico? Sabem quem lhe deu o nome? Eu! Para além de ter baptizado o mar, dei também o meu nome a umas nuvens que dali se avistam que afinal são galáxias, isto é, nuvens carregadinhas de estrelas e outros astros.
Pouco tempo depois, envolvi-me numa violenta luta, nas Filipinas e não voltei mais.
Dos duzentos e cinquenta que partimos, só dezoito regressaram. É muita vida perdida.
Mas o que eu não quero mesmo, meninas e meninas das escolas portuguesas, é que percam a memória daqueles que prepararam o mundo para ti, Joana, para ti, Tiago…
Regresso agora à minha condição de personagem da História, feliz por ter contribuído para enriquecerem o vosso conhecimento.
Até sempre!
Fernão de MagalhãesCarta baseada na ideia de José Jorge Letria, que deu forma ao seu último livro, O Que Darwin Escreveu a Deus

3 comentários:

ecila disse...

Muito bom Madalena! Gostei imenso :-)

AEnima disse...

E' tao facil cair no esquecimento, nao e' Madalena? Pelo menos ainda existem umas pessoas como tu ai pelo mundo para nos acordar.

Gatapininha disse...

Olá
Aqui estou eu a escrever-te de um magalhães hehehe se der erros a culpa 'e dos meus dedos grandes para teclas tão piquenas!
Estou a passar a tarde no IPO, vim com o meu pai à consulta e a tratamento. Estou ~'a desde a uma, que sorte ter um magalhães hehhe
Amanhã, se Deus quiser, l'a irei ter contigo ao saldanha:) Vamos ver se dou com aquilo, j'a l'a não vou aos anos.
jokas grandes.
Sandra