quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Velhos são os trapos...

Dia Mundial da Terceira Idade! É hoje, dizem. E dizem também que foi proclamado pelas Nações Unidas, para que as precárias condições de vida, desde a saúde do corpo à solidão, sejam sentidas pelos outros, os das outras idades. Talvez exclusão, em vez de solidão, seja mais verdade, apesar de mais duro de admitir.
Um dos mais famosos velhos da nossa literatura talvez seja o do Restelo que preenche, na epopeia, o lugar que os versos reservaram para a outra visão dos acontecimentos. Não foi para mudar o rumo das coisas, pois elas já tinham, como todos sabemos, acontecido!
Uma outra figura emerge também das páginas de um livro directamente para a minha esfera interior de afectos especiais: a avó Josefa, a avó do (polémico até dizer basta!) Saramago. É um texto antigo, em que o escritor celebra alguém que, distante no entendimento das coisas, lhe propõe um olhar sobre a vida, sobre o mundo, sobre as coisas que passa por uma simplicidade inebriante. "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer!", dizia a avó Josefa, sensível ao "casamento das princesas" e ao "roubo dos coelhos da vizinha", indiferente às tecnologias, orgulhosa da memória da beleza da juventude. "Dizes que foste a mais bela rapariga do teu tempo e eu acredito."
A minha avó Madalena tinha tudo isto: um "saber de experiências feito" e o seu olhar sobre a vida, à luz do verde que o dominava, entranhou-se no nosso futuro, agora presente, como um legado não só genético, mas também cultural, também eivado, como a avó Josefa, de uma simplicidade desconcertante.
À minha avó Clotilde, revejo-a sempre a descer a rua, em direcção à casa da amiga, com uma expressão sofrida e pouco penetrável. Era a ausência já a entrar com ela! Protegia-se do sol com um guarda-sol enorme, muito redondo, que produzia a sombra redonda que acompanhava os contornos que o próprio corpo desenhava no passeio. O seu andar era ritmado e certo. Tudo nela me diz que o que a derrubou foi a sua própria resistência!
Do meu avô Abraão herdei o amor à "Cidade e as Serras" e do meu avô Jorge ficou-me a certeza que a teimosia não pode tudo e que mesmo os mais duros cedem às certezas do amor.
Velho é o Pai Natal e ninguém o quer ver pelas costas!

6 comentários:

Maguie Barreira disse...

boa tarde Madalena
um beijinho
..

Natália Fera disse...

Lindo texto Madalena.
Que saudades dos meus Avós.
Principalmente a minha Avó Albertina,
tão doce,tão querida.
É esse carinho e ternura,que quero transmitir ao meu Rafael.

Gatapininha disse...

Olá Madalena
Adorei o texto:)
Ás tuas boas recordações fizeram-me lembrar a minha avó materna, adorava dormir em casa dela e de manhã ir com uma leiteira (não me lembro bem qual o nome técnico da coisa) buscar leite fresquinho (na vacaria lá perto) para o pequeno almoço.
Também tenho saudades da minha avó adoptiva, era uma querida.
jokas

Graça Pereira disse...

Os afectos permanecem sempre nas nossas vidas e nunca são velhos...o senhor de barba branca e sorriso bonacheirão...não é que renasce todos os anos??
Onde está então a velhice??

Natália Fera disse...

Boa noite Madalena.
Beijinhos.
Sua Marota hoje fizeste aparecer uma lagrimita nos meus olhos.
Mas foi bom.As lembranças são tão doces que nem sei explicar.

O Baú do Xekim disse...

Olá Madalena.

Vim desejar uma boa noite e feliz fim de semana.


Beijinhos, Madalena.