sexta-feira, 27 de agosto de 2010

As estaladas que nunca darei...

O quintal da minha avó era o cenário de todos os "filmes" das nossas infâncias. Nossas: minhas e dos meus primos!
Era aí que ensaiávamos a vida de crescidos. Debaixo de uma abacateira, protegida pela sombra e pelos sons da folhagem que mexia com os ventos, fiz muitas refeições para as minhas bonecas. Depois sentava-me à mesa com elas, eu, uma espécie de Gulliver, conversava e contava-lhes as minhas histórias, os meus problemas, as minhas dificuldades em fazer amigos ou em conseguir que as pessoas gostassem de mim.
(De dentro da casa, pela janela da cozinha, chegavam os sons da vida, o barulho dos tachos de alumínio, o barulho do azeite a fritar as batatas, a "martelada" para amaciar os bifes... A minha avó e a minha tia faziam todas as lidas da casa. A minha tia cantarolava. Era muito bem disposta a minha tia! Se a olhássemos fixamente nos olhos, dava uma gargalhada e dizia uma piada.)
Miúda mal disposta e parva era eu! Batiam-me e eu nada! O medo tolhia-me a iniciativa de bater e até o direito de bater também. Um dia atrevi-me a dar uma dentada à minha prima Madalena. O que eu fui fazer!!!! A minha tia ficou zangada e fez-me sentir verdadeiramente mal: daquela dentada podia resultar uma doença grave! E ali fiquei eu, encolhida e cheia de culpas.
Cresci, nem sei bem como!, e nunca andei à pancada! Levei algumas tareias dos meus pais. As célebres tareias de chinelos que raspam e não magoam. Encenação eficaz. Mesmo não doendo, ficávamos sempre a pensar que um dia podia doer. Essa preocupação já era suficiente para moderar o impulso para o disparate. Levei reguadas injustas. Essas magoavam a inocência! Foi no Colégio. Essas ainda me doem!
Não gosto de cenas de reguadas nem de pancadaria, daquelas em que os intervenientes ripostam um a seguir ao outro, sem fôlego...
O que eu gosto mesmo é daquelas cenas de "estalada". Aquela estalada bem dada e bem merecida! Daquelas que enchem os ecrãs e a sala, nos filmes!
Dessas nunca levei.
Dessas nunca dei.
(Nunca dei, mas tenho pena! Há quem as mereça!)

7 comentários:

Isa disse...

Olá, este texto podia ser quase meu, em vez de uma abacateira, era uma parreira, tb ia para casa da minah avó com os meus primos e tb lá estava a minha tia.
Belos tempos.
Tb andei no colegio, mas n me lembro de levar reguadas, mas lembro do barulho nas mãos de outros.
Gostei de ler, um beijinho grande.

O Baú do Xekim disse...

Olá Madalena, boa tarde.

Um lindo e feliz fim de semana.

Beijinhos.

Natália Fera disse...

Podes crer Madalena,também nunca dei mas há muita gentinha que merece.
Vamos dando assim umas levezinhas de vez em quando para pelo menos ver se prestam atenção.

beijinhos Madalena e bom fim de semana.

Lina Querubim disse...

Beijinhos Madá ;o) tem um bom fim de semana!

Graça Pereira disse...

O teu lembrar...trouxe-me outras recordações...As reguadas das freiras nas minhas mãos sapodinhas de criança...e porquê? Porque eu me ria...tinha verdadeiros ataques de riso (ainda hoje sou assim)...Então quanto mais eu me ria...mais elas me batiam...Chegava a ir para casa com as mãozitas inchadas sem as puder fechar...Não acusava ninguem mas um dia...o meu pai reparou e foi falar com a superiora: "Venho-lhe dizer que a senhora nunca entrará no céu. Ali, só se ri e canta. O lugar indicado...é o inferno" Acabaram-se as reguadas. Beijocas minha querida e bom Domingo.
Graça

IsaLenca disse...

Levei muitas na escola...era uma rebelde, e não gostava quando apareciam estagiárias em vez da minha professora. Um vez coloquei as mãos em concha...a régua deu um salto e acertou na que me estava a bater! Fiquei com os dedos a arder, de castigo o resto do dia...mas depois deixei de levar...

Estaladas? Já dei algumas...mas acho que há formas mais eficazes de castigar alguém (e depois hão os outros todos que mereciam muito mais do que simples estaladas...)

Bom domingo. Bjs

Natália Fera disse...

Bom dia Madalena
Beijinhos