"Hoje será sempre o dia dos teus
anos, papá!"
Foi o que eu escrevi no Facebook, hoje,
pela manhã. Não porque seja necessário fazê-lo, para me lembrar de ti, para
sentir que tu continuas a andar por aqui. Continuas porque os genes assim o ditam e,
contra a ciência, nada feito! Ela ganha! Esta verdade científica dá-me
segurança e não tenho de me refugiar noutros “creres” para ter a certeza da tua
presença.
Todos os dias o teu retrato deambula
pelas minhas recordações, pela minha própria pessoa pois estou cada vez mais
parecida contigo, fisicamente.
Às vezes, é na vida dos
outros, é nos momentos que vamos repetindo, no tempo de hoje, que eu
te "encontro". Quando vou buscar os meus netos à escolinha, por exemplo, recordo o dia em que
chegaste mais tarde e a tua figura enorme nunca mais aparecia junto ao portão e
eu pensei que esse era o último dia da minha vida. Pois que é que eu podia fazer
sem ti ou sem a minha mãe? Quando finalmente chegaste, corri e as tuas pernas
eram tão grandes que era difícil o abraço, o colo…. Era preciso trepar.
(Por isso, "aflição" foi coisa que eu quis sempre que os meus filhos não sentissem. E agora com os netos será igual.)
(Por isso, "aflição" foi coisa que eu quis sempre que os meus filhos não sentissem. E agora com os netos será igual.)
Tu foste sempre um homem
grande e a tua altura não era apenas uma altura medida em metros. Tinhas uma
visão das coisas da vida muito certa, muito antes de chegarem até nós.
Juntavas a esta capacidade de prever, ver ao longe, uma filosofia de vida que
se baseva, digo eu, hoje, no mais profundo senso comum. E olha que o senso
comum não é qualidade que as pessoas gostem de proclamar! Todos querem ser originais. E
tu tinhas umas tantas frases feitas que, sendo ou não da tua autoria, sustentavam
a tua verdade sobre a vida. Por exemplo, o ditado “os cães ladram e a caravana
passa” era muito inspiradora para ti porque tu sabias (eu ainda não) que
devemos seguir os nossos caminhos, independentemente do que os outros acham ou
não. Mais ou menos isso.
Eras pessoa de grande
conversa e de grande companhia. Os teus interesses eram tão variados que
ninguém ficava indiferente ao que dizias. Sabias ouvir e isso era muito
importante para mim. Mesmo que não dissesses, eu percebia quando é que tu não
gostavas de alguma coisa que eu tivesse dito ou escrito.
Dois ou três dias antes da
tua partida (não consigo referir-me por outra palavra que não seja o
eufemismo!) falámos de nós, de mim e de ti, os dois, eu e tu, e eu fiquei muito feliz porque tu me disseste
que eu nunca te tinha dado problemas ou desgostos. Engoli em seco porque sabia que isso não era
bem assim, mas também percebi que na altura era o teu sentir: não havia nada
nas minhas escolhas, nos meus caminhos, que tivesse de ser severamente censurado.
2 comentários:
gostei tanto deste texto. das minhas memórias, ainda que vagas e imprecisas, infantis, do nosso primeiro encontro, o teu pai faz parte componente. e de certo modo, até agora, ele estava a faltar à nossa reunião.
beijo grande, Madalena
Beijinho grande, Miguel!
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