À Sra Dona Lourenço Marques,
Querida Lourenço Marques, não sei onde fui buscar esta ideia
de seres mulher com nome de homem… Hoje
e agora, serás.
A ideia nasceu após uma pergunta formulada à Música Amélia
Muge, sobre a mudança do teu nome, se essa mudança traz alguma alteração aos
laços estabelecidos contigo anteriormente. Nem ouvi mais nada. A pergunta
entrou pelo meu ouvido directamente à minha memória e daí a ideia de te chamar
senhora, de te considerar mulher.
És a minha mãe nova e bonita! És uma qualquer das minhas
tias, todas elas mulheres com um capital de amor e de afecto sem limites nem
plafonds. Crédito total. És qualquer das minhas amigas que cresceram comigo e
continuam a acompanhar-me nas caminhadas ou mesmo nas corridas da vida. És a minha
raiz, o meu ventre materno, a minha sensação de paraíso perdido, minha primeira
infância intocável de memórias que não guardo senão em fotos e que me devolvem
uma inconsciência do mal, do perigo. Espaço e tempo plenos de natureza luxuriante e sugestão de aventuras
mil.
A minha memória primeira, catalogo-a num tamanho muito xxs,
entre os dois e os três anos: uma mudança de colo, da minha mãe para a minha
tia, que iria ser minha madrinha. Um carro parado, junto à Catedral.
És a minha avó Madalena, imensa como os seus olhos verdes,
estes sim verdes de esperança. Também
mulher de amores incondicionais e com uma dedicação à família que a
transformava na verdadeira matriarca, com poder conquistado e aumentado ao
longo dos anos.
As minhas priminhas, meninas felizes que corriam pelo nosso
jardim do Éden privativo, o quintal da Avó, onde os canteiros das alfaces e dos melões,
melancias, couves, batatas, árvores de todos os frutos, uns tanques imensos
onde todos os dias as roupas brancas eram lavadas e estendidas em bases de
ferro e arame a que chamávamos “coradoros” pelas duas mulheres da casa. Junto
ao tanque… a romãzeira dava romãs, nem
sei em que altura do ano, pois o conceito de “ fruta da época”, no meu passado
remoto, não existe.
Hoje é e será sempre o teu dia, Minha Cidade, a tal que eu
sei que traí….
Fotografia do meu cunhado, Luís Boléo|
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