quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Gratidão!

A minha mãe partiu há pouco mais de três meses. 
Foi um desaparecimento físico. Nada mais! Permanece no meu pensamento, na minha memória e no meu coração. Como se vivesse. Como se estivesse sentada naquela cadeira junto à porta, entre a Dona Hermínia, sua companheira de quarto, ou mesmo a Dona Luísa, também sua companheira de quarto, as outras senhoras cujo nome não sei mas reconheço porque fixei as feições, o olhar, a aflição, a ausência…
Falo de uma sala enorme, com grossas paredes de pedra, com janelas grandes, por onde entra luz do dia e da vida lá fora. Falo de uma sala onde todos esperam qualquer coisa: a noite, o familiar, a visita, o lanche, o jantar, o remédio, o curativo, a palavra amiga, a ajuda…
A minha mãe sentava-se sempre nessa cadeira e, por muito distante que estivesse, por muita ausência que o rosto revelasse, o sorriso aparecia, franco e largo e os olhos iluminavam-se quando me via à porta. Eu podia ser a mãe, a irmã, as pessoas que estavam gravadas na matriz de uma vida em que fora feliz porque os sonhos pareciam viáveis. E a conversa decorria, acontecia, ao ritmo de uma memória moldada, superiormente treinada para não causar mais infelicidade.
E foi assim durante quase dez anos!
E não havia queixumes.
E havia gratidão. E havia amizade. E havia almas e mãos que a ajudavam a percorrer o caminho que havia ainda a percorrer. Havia pessoas que a ajudaram e me ajudaram.
São essas pessoas que eu todos os dias recordo com uma gratidão indizível.
Fiquei amiga da Dona Cecília que recebeu a minha mãe, porque estava de serviço no dia em que a minha mãe entrou no Lar Diogo Gonçalves pela primeira vez. Foi ela que a viu sair e pressentiu que se tratava de uma despedida. Foi ela que me ligou com todo o carinho que arranjou dentro do coração bondoso e me disse que o que se estava a passar….
Obrigada, Dona Cecília! Para sempre, muito obrigada!
A minha mãe teve a sorte de contar com pessoas que trabalharam no Centro de Apoio a Idosos/Lar Diogo Gonçalves ao longo dos dez anos e que a consideravam uma amiga.
Quero também referir a dedicação da Enfermeira Graça, sempre disponível para aliviar as dores, procurar soluções e acompanhar.
A todas as funcionárias, especialmente as que vestem, limpam, dão de comer, acarinham os idosos, Juliana, Dolores, Vanda e muitas mais que não quero omitir mas não sei o nome, a minha gratidão!

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