... nada! Ou talvez:muito!
Hoje viajei até às minhas origens, parei em Ma-shamba e lá encontrei um caminho que me levou a um conto/uma crónica do Cronicando, que prova que a beleza e a simplicidade andam sempre próximas, muito próximas!
Recordei o dia em que os meus olhos bateram num livro muito simples, mas diferente.
Ainda hoje não sei por que é que o achei diferente...
Chamava-se Cronicando e o nome do autor era totalmente desconhecido para mim!
Li-o com o prazer acrescido de descobrir uma língua dentro de outra.
Mantenho na memória o gosto que senti ao longo de todas as histórias de Cronicando,mas há uma especial:a do filho que dá à luz a mãe.
Chama-se o Filho da Morte e é uma história de morte e de vida, num campo de refugiados, “que se doseavam, na aplicação da tristeza.” Talvez por isso, por terem de dosear a tristeza, não fosse ela consumida em doses mortais, não se ocupavam muito dos mortos, nem mesmo neste caso, tratando-se de uma grávida.
“Estavam demasiado ocupados em sobrevivências.”
Mas a pele luzidia e volumosa teimava em atrair uma atenção qualquer e a morta entrou em trabalho de parto, porque naquele dia, naquele corpo, a vida “fez horas extraordinárias”.
Ninguém se mexeu!
Ninguém excepto a “cabistonta” Tazarina, que sofria de tremuras tais que nem a si própria parecia conseguir amparar-se. Mas foi ela que pegou e deu colo àquele ser que vinha do outro lado da vida e, com ela, o choro do recém nascido cessou. O corpo dela ganhou forma e volume quase instantaneamente. Apoderou-se dela a verdadeira maternidade: “os seios se volumavam, os olhos se maternizavam”. “Nunca se viu, dizem, mãe em tanta compostura.”
É impossível falar do texto, sem recorrer às próprias palavras do autor, pois não há no nosso vocabulário palavras que substituam as que ele inventa.
Maternizar significa tornar materno.
E foi o que aconteceu à Tazarina, ou melhor aos seus olhos, tornaram-se olhos de mãe.
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