segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Saudade da Guidinha- artigo da Capital, de Rogério Rodrigues

Carta aberta ao pai da guidinha
Mas tenho a boa novidade o teu felizmente há luar dá-se nas escolas quem estraga tudo são os resumos que a rapaziada não está para ler a peça toda nem representá-la hoje nem feliz nem infelizmente há luar muito embora estejamos em Agosto e não em Outubro da execução do freire de andrade cujo delator foi um tal morais sarmento estamos em agosto e há um luar pleno uma lua cheia não sei se se pode dizer plenilúnio

Escolheste o silêncio eterno luís mas eu tenho saudades tuas porque escolheste paraísos sem mágoas menos artificiais e menos fiscais eu tenho saudades tuas sttau escolheste o esquecimento teu e dos outros mas eu continuo a lembrar-te luís sttau monteiro quando não sei se sabes que por aqui as notícias não são de todo agradáveis e a tua guidinha que sempre trataste com tanto carinho e amor foi a um pronto a escrever e comprou um sortido de maiúsculas vírgulas e pontos para se reciclar e fazer cozinhados da grande culinária social esquecendo-se de ti e adoptando outro nome o que é uma ingratidão mas conduta atitude como se diz agora normal correcta em dia luís isto está muito pior do que tu o deixaste já não a tua elegância mesmo de chinelos e dedos amarelecidos pelo tabaco tanto podias entrar no tavares rico como na tasca do joão na luz soriano onde partilhávamos uma garrafa de gin cuja marca já não aparece tower london um aviso do mal que a bebida das velhas inglesas fazia essa cadeia que nem sequer dispensavas no bacalhau com grão no solar do loreto luís estamos no crepúsculo até a guidinha nos abandona transformada em santanete que tu nem imaginas o que está a acontecer no país de que tanto gostavas e tanto detestavas na tua educação british filho de embaixador em londres meu adorável mentiroso tão mentiroso que te enganavas a ti próprio e nem de propósito estavas desiludido com a esquerda e a esquerda dava-te razões para estares desiludido e hoje estarias desiludido com todos que a guidinha deixou-te em maus lençóis apanhada agora a escrever novelas e já meio tia no algarve a quem não perguntam o que está a ler mas sim o que está a escrever este país está assim luís nem tu imaginas os que já morreram a não ser que estejam na tua companhia e aí o caso já muda de figura mas como sabes há muito eu não acredito nestas coisas de convívio eterno em que é proibida a má língua e maledicência portanto o melhor é que estejas sozinho não saibas nada do que se diz e vê no telejornal porque se eu por acaso numa comunicação mediúnica com o apoio da natália correia te anunciasse que santana lopes é primeiro-ministro e te alinhasse a nomenclatura governativa mandavas-me para o pasto de cambronne e dizias que eu tinha enlouquecido e eu respondia-te luís não fui eu que enlouqueci alguém enlouqueceu por mim e isto ainda não é tudo com assessoras no egipto lulus e lilis nas maldivas ou no bengladesh e guerras de alecrim e manjerona expressões que a guidinha não usava que ela era mais para a frentex e que hoje também se não usa porque em inglês é que tudo resulta mas eu escrevo-te assim não para te deprimir nem denunciar o teu conforto celestial muito menos para te informar que no ps ninguém se entende muito embora tu nunca tivesses pertencido a qualquer partido antes e apenas do reviralho daquilo que não estava bem não sabendo tu o que estaria melhor franco atirador de uma figa estando os teus melhores amigos no que é hoje o ps nunca foste ouvido nem achado mas tenho a boa novidade o teu felizmente há luar dá-se nas escolas quem estraga tudo são os resumos que a rapaziada não está para ler a peça toda nem representá-la hoje nem feliz nem infelizmente há luar muito embora estejamos em agosto e não em outubro da execução do freire de andrade cujo delator foi um tal morais sarmento estamos em agosto e há um luar pleno uma lua cheia não sei se se pode dizer plenilúnio acho que os foguetes vão ser proibidos por causa dos incêndios e o teu amigo de longa data jorge sampaio não se está a portar lá muito bem isso na opinião sempre subjectiva daqueles que votaram nele e nos quais me incluo pelo que vai alguma tristeza neste país e a esquerda está a fazer a cama no desconforto olha luís vou deixar-te que já estou atrasado para a vida a vidinha este correr das horas esta impertinência do tempo que nos quer iludir e eu não quero acabar esta carta em tristeza que um homem não chora mas também não é de ferro luís estejamos prontos para este abraço entre algodão e rama e fumo de tabaco como putos apanhados em falso que agora já quase é crime fumar que eu não sei se aí te deixam acompanhar o gin com um cigarro e tens um grupo de amigos como em campo d’ourique para saborear a tua imaginação gastronómica com o melo lapa o brun do canto e o este então miúdo que mal se assina tão trémulo está de saudade e de inquietação do futuro.

2 comentários:

molin disse...

Sabes onde posso encontrar textos da Guidinha? Se tiveres algum ou souberes de alguns na net, dá-me o endereço!

Beijinho!

Madalena disse...

Vamos lá a ver se te arranjo qualquer coisa!!!
Até quinta, claro!