quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Nascer ou ir nascendo até ao fim

Quando me perguntam onde é que eu nasci, respondo sem hesitação: Mocuba.
Depois é que surgem as hesitações. Onde é que fica Mocuba? Cuba? Alentejo?
Surgem as hesitações e eu tenho de explicar que fui nascer a Mocuba, mas foi apenas isso. Memórias não tenho, para além das que me foram transmitidas pelos meus pais, sobretudo pela minha mãe, já que o meu pai era enfermeiro no Alto Molocué, ou seja a muitos quilómetros e muito tempo de distância e não esteve presente na altura do meu nascimento.
Veio depois confirmar a decepção de não ser pai de um rapagão, mas sim de uma rapariga com pouco peso e nariz grande, ainda por cima feia.
Se não houvesse internet nem blogs, tudo ficaria como esteve, mais de cinquenta anos: um dado do meu BI.
Um dia lá fui net adentro à procura da minha terra.
Encontrei uma bela imagem com uma legenda que referia a minha terra como a capital do algodão. Gostei. (Gostei também de saber que nasci numa capital.)
Ei-la, roubada daqui.

Tem palácio de governador e tudo. Tem uma rotunda.
Foi em Mocuba que eu nasci, pela primeira vez, de nascimento natural, à luz de um petromax, pela mão de uma parteira que se chamava Adelaide.
Não havia luz eléctrica, nem tão pouco hospital.
Havia um posto médico e um médico. Por isso fui lá nascer.
Li entretanto que Mocuba possui hoje o maior hospital do tipo rural, em todo o Moçambique: 190 camas. Podia funcionar bem se não fossem deficientes o abastecimento de água, da electricidade e o saneamento
Hoje perguntei ao meu pai como era Mocuba nesse tempo.
Disse-me que parecia o Far West... sem Saloon...
Nem fotos tenho desse tempo, desse lugar.
Estas são do Alto Molocué:
Esta com a minha mãe.
E esta com o meu pai.

5 comentários:

eduardo disse...

Boa noite, Madalena.
Então vai lá dar uma voltinha pelos sons e outras terras da tua.
Música:
http://www.malhanga.com/mocambique/espaco-musical.htm
Fotos:
http://www.kanimambo.com/kanimambo.htm

Beijinhos

Madalena disse...

Pois é, Eduardo, esta coisa da internet parece aproximar distâncias, mas ao mesmo tempo dá-nos a verdadeira dimensão dessas distâncias.
beijinhos, boa noite e obrigada pela tua atenção que nunca se desatenta!

Carlos Gil disse...

Nasci em cidade e sou um bicho dela. Como todos suspiro pelo suposto idílico da vida no campo, e em especial e pelas razões que tu sabes com especial audição das terras africanas que só tive tempo de conhecer em fracas incursões - mas que foram tão intensas que a memória delas ainda perdura. Claro que há o outro lado, e há confortos citadinos em que não me revejo a deles abdicar.
Mas o teu post, este post... que bom tratares com tanto carinho as tuas raízes, o primeiro ar que respiraste e aquela grandeza infinita que alonga horizontes a quem caminha.
Sobre LM (post posterior a este): a minha musa. Se nasci na 'Metrópole' e a ela retornei, foi em LM que cresci e hoje sinto-o com importância acrescida. Se, ao sentir que tinha 'algo para dizer' criei um blog, a raiz foi naturalmente africana e eu identifico-me com as suas palavras específicas.
Sobre 'dos vinte aos quarenta': que Odivelas tenha por ti tudo o que merece quem assim trata bem o relato duma vida e dos cheiros que a preencheram.

Sobre o "chora": Estarei aqui. Mais silenciosamente por certo, mas eu estarei aqui a sentir-te. Obrigado.

Joantago disse...

Caríssima,

Assim, porque não sei como tratá-la. Acedi a este Blog, cujos comentários me surpreenderam e mais ainda por ter escrito sobre Mocuba (onde diz ter nascido), sabendo tão pouco relativamente a uma Terra com muita magia. Confesso-lhe que o cheiro, o sabor, o sentir e o pôr-do-Sol de Mocuba, são diferentes.
Bem, apesar de não me conhecer, mas como natural de Mocuba que também sou - chamam-me o Poeta Lomwe - quero ajudá-la a descobrir um pouco mais a terra onde nasceu, para além da informação que já obteve: Experimente http://www.msn.com/MocubaEstreladaZambezia;
http://Joantago.no.sapo.pt
Cumprimentos.
Joantago

Anónimo disse...

Ola Madalena,
Deixo "marca" pq tb nasci em Mocuba
@ 27 de Dezembro de 1955
Ali, fui feliz muitas vezes...

felecidades

Agos