Esta história foi contada numa aula de Estudo Acompanhado, por uma aluna que se chama Natália. É uma lenda brasileira que explica o aparecimento do Pai Natal.
Era uma vez uma aldeia, onde viviam muitas crianças pobres.
Vivia também uma princesa. Era a única criança que tinha brinquedos, como tinham as meninas do resto do mundo.
Perto desta aldeia, passava um rio. Quando chovia, o rio corria com muito mais força e tornava-se perigoso atravessá-lo. Contudo, no dia de Natal, o rio parecia perceber que nesta época do ano, há um apelo à paz, à tranquilidade, ao amor... Corria então muito tranquilo, como que por magia.
Do lado de lá do rio, havia uma floresta e aí morava, há muitos anos, um velho lenhador que fazia brinquedos de madeira para as crianças pobres. No dia de Natal, passava o rio e distribuía os brinquedos na aldeia.
Um dia, estava o lenhador entretido com os seus pensamentos e com a sua arte de talhar a madeira, de modo a que das suas mãos saísse um comboio, um avião, uma casinha de bonecas, quando foi surpreendido por uma voz que lhe pedia uma boneca de madeira.
O pobre lenhador olhou e reconheceu a Princesa. Limpou muito as mãos a uma toalha que tinha em cima da bancada onde trabalhava e olhou para a princesa, com os olhos muito tristes.
- Vossa Alteza sabe que não posso oferecer-lhe uma boneca feita com a madeira das minhas árvores. Estes brinquedos são os dos meninos e das meninas pobres! Pelo que sei, o seu quarto tem brinquedos lindíssimos, coloridos, brilhantes. As suas bonecas parecem pessoas de verdade. Estes brinquedos são pobres...
- Mas sem uma boneca de madeira, eu nunca poderei brincar com as outras meninas nem, tão pouco, aproximar-me delas!
Uma lagrimazinha começou a correr dos olhos castanhos da Princesa e ela foi-se embora.
O coração do lenhador ficou despedaçado com a tristeza da menina. Ao fim e ao cabo lá por ser princesa não deixava de ser uma criança como as outras.
As florestas são normalmente habitadas por seres fantásticos como as fadas e os duendes. Nunca o lenhador tinha pensado em recorrer aos serviços destas criaturas de que tanto já ouvira falar e que até já tinha tentado representar nos seus brinquedos.
Mas desta vez o assunto era sério. Era uma criança que estava muito, muito triste e o lenhador já tinha ouvido histórias de pessoas que tinham morrido de tristeza. Este pensamento deu-lhe a coragem e o atrevimento de procurar a Fada da Floresta, no sítio que diziam ser a sua morada: aquela árvore imensa que nunca perdia a folhagem. Ninguém ousava tocar-lhe nem ao de leve com um machado por ser essa a casa provável da Fada.
Graças ao seu pensamento mágico, a Fada já sabia de tudo o que trazia ali o bom homem. Disse-lhe então que fabricasse a boneca com o mesmo carinho com que fabricava os outros brinquedos e que a levasse à Princesa no dia de Natal. Acrescentou que esta acção iria trazer-lhe, no futuro, muitas alegrias.
Assim aconteceu.
Passaram muitos anos e muitos dias de Natal. O homem estava muito velho mas continuava a fabricar os brinquedos. Começou a perceber que as forças lhe faltavam para atravessar o rio, apesar deste continuar fiel à acalmia da época festiva.
A Fada visitou-o na sua casa e disse-lhe que lhe ia oferecer uns animais, aparentemente iguais a outros que havia na floresta, mas dotados de fantasia, podendo assim voar sobre o rio, puxando o trenó que entretanto o lenhador tinha construído também com as suas mãos.
O pobre homem choramingou de emoção, humedecendo as lentes dos óculos que o ajudavam a ver o seu trabalho. Confessou então à Fada que, para além da falta de forças, afligia-o castigar as poucas árvores que a floresta já tinha, sabendo que um dia não ia ter nenhumas, se as continuasse a cortar como fizera até ali.
A Fada despediu-se e, mo mesmo instante, convocou o Rei dos Duendes e contou-lhe o que se estava a passar, confiante numa ajuda pronta. Não estava enganada. Os duendes foram todos avisados e, no dia seguinte, espalharam-se pela floresta e cobriram o chão de folhas. Dois dias depois nasceram muitas árvores novas que, graças também à fantasia, depressa se tornaram árvores robustas e fortes, capazes de fornecer ao lenhador e artífice a matéria-prima de que tanto precisava.
Passaram mais alguns anos e o Anjo da Morte aproximou-se da casa onde morava o lenhador. A Fada já tinha pensado nesta visita e, antes que ele pudesse levá-lo para o Jardim das Memórias, apareceu e pediu-lhe a imortalidade do velho lenhador. O Rei dos Duendes apareceu também e pediu o mesmo. O Anjo acedeu, mas com a garantia de que manteriam a aparência que ele tinha, naquela altura da vida.
As barbas estavam crescidas e eram muito brancas. As rugas à volta dos olhinhos, protegidos pelas lentes redondas, também continuaram. Fora sempre um bocadinho rechonchudo e nem era muito alto.
Passou a ser conhecido na Floresta, na aldeia, nas cidades, no mundo inteiro.
É o Pai Natal.
A Natália fala muito baixinho. Ao contrário do que acontece normalmente, os colegas barulhentos calaram-se e seguiram, com muita atenção e com muito encanto, a narrativa contada na voz suave, quente e brasileira da Natália.
2 comentários:
Pois é Madalena, é muito gratificante podermos "amaciar" a crueldade deste mundo com um texto de Natal. Felizmente que ainda há garotos que apreciam e "sentem" a magia de um conto de Natal. Isso aquece-nos o coração. Bem basta tudo o que nos torna frios e revoltados. Fazes bem, isso faz bem à alma.
É muito bonita esta lenda!
Beijinhos e bom fds
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