sábado, 13 de janeiro de 2007

E...

E se, de repente, juntássemos o que sabemos ao que sonhamos e transformássemos os espaços opacos e densos, em que normalmente nos movemos, em luminosos palcos azuis, mais brilhantes do que a alma imaculada da criança recém-nascida, antes ainda do pecado original?
Foi o que fez o Padre Bartolomeu de Gusmão, padre que pregou o perdão e não o castigo, sabendo ele que o castigo da sua ousadia de sonhar estava sempre por perto.
Há um Padre Bartolomeu de Gusmão que Saramago imortalizou, um homem que partilhava com os mais simples o seu projecto máximo, precursor do sonho de viajar até ao infinito, onde mora a lua, e outras bolas brancas(ou amarelas ou azuis) que o nosso olho nu não alcança.
E a máquina voou!
"A máquina estremeceu, oscilou, como se procurasse um equilíbrio subitamente perdido, ouviu-se um rangido geral, eram as lamelas de ferro, os vimes entrelaçados, e de repente, como se a aspirasse um vórtice luminoso, girou duas vezes sobre si própria enquanto subia, mal ultrapassara ainda a altura das paredes, até que, firme, novamente equilibrada, erguendo a sua cabeça de gaivota, lançou-se em flecha, céu acima." José Saramago, Memorial do Convento.
Como voam as gaivotas sobre o rio de Lisboa, ou dentro de qualquer azul que achem por perto!
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O Padre Bartolomeu de Gusmão morreu a 13 de Janeiro de 1724, em Toledo, no Hospital da Misericórdia.
Continua vivo nas páginas de um livro, na memória e nos sonhos dos homens simples, irmãos da Blimunda e do Baltasar.
E se ousássemos reclamar essa fraternidade ideal?!

3 comentários:

Luisa Hingá disse...

E se não fosse preciso termos que ousar?
Beijinhos

Flor de Tília disse...

Passei aqui pela primeira vez e gostei da ousadia.
beijinhos

Anónimo disse...

Vim fazer-te uma pequena visita e gostei. Vou repetir,ok?