quarta-feira, 2 de maio de 2007

Quem semeia o ideal...

...colhe a liberdade!
Não sei muito sobre o Maio de 68. Não estava lá, nem estava cá, tão pouco! Mas percebi depois, pouco tempo depois,enquanto aluna da Faculdade de Letras de Lisboa, que este Maio era uma semente e que os seus efeitos se tinham espalhado e se faziam sentir aqui também.
Na procura de informação, encontrei este testemunho que em letra bela conta as manifestações, tomando o pulso à força da multidão, não só feita de estudantes, não só feita de gentes das escolas, mas de todos os cantos da vida. Todos desejavam uma vida melhor.
(Anda-se sempre à roda do mesmo: uma vida melhor! Nenhum outro desejo é mais legítimo, por mais que se tente dar a volta ao ideal. Uma vida melhor para todos e não apenas para alguns. É isto que temem os governos. Foi o que fez tremer de Gaulle.)
Eu converso com meu acompanhante, um homem de cerca de 45 anos, um “velho” revolucionário. Discutimos as tremendas possibilidades que agora se abrem. Ele subitamente se volta na minha direção e aparece com uma frase memorável: “Pensar que tivemos de ter filhos e esperar vinte anos para ver isso...”
Mais à frente...
Cerca de 2 horas da tarde a seção estudantil parte cantando a Internationale. Andamos de vinte a trinta pessoas lado a lado e com os braços entrelaçados. Há uma fileira de bandeiras vermelhas na nossa frente e uma faixa de 15 metros de largura trazendo quatro simples palavras: “Étudiants, Enseignants, Travailleurs, Solidaires”16. É uma visão comovente.
E também...
Não há mais nada além de pessoas, tão longe quanto os olhos podem alcançar.
E até...
Não foi só isso que aconteceu. Um grande piano apareceu de uma hora pra outra no grande jardim central e permaneceu lá por vários dias. As pessoas chegavam e o tocavam, cercadas por outras que as incentivavam com entusiasmo. Enquanto as pessoas falavam nos auditórios sobre o neocapitalismo e suas técnicas de manipulação, Chopin, compassos de jazz, trechos de La Carmagnole e composições atonais se espalhavam no ar. De noite houve um recital de percussão, e depois alguns clarinetistas apareceram.
Hoje é dia 2 de Maio. Há trinta e nove anos, o Quartier Latin estava diferente. Preparava-se para ser palco da História.

Imagem daqui

1 comentário:

Anónimo disse...

Mas que bem lembrado, oh Mad'! - já com link no chuinga.
beijo, IO.